E o coração? Oco.

Me olhou nos olhos e percebi que se assustou, tamanha era o oco do meu coração que se confundia com escuridão.

Meu corpo suado, cabelos arrepiados, sinto as bactérias caminhar por meu corpo...

E o coração? Oco.

Alma viajante, corpo andarilho, cigana vida...

E os olhos? Brilhantes.

Brilhantes, mas ainda sim escuros.

E o coração? Árido, sente falta de beijos molhados.

Percebi que ele sentiu medo, até pôs o pé esquerdo em falso – na pontinha do dedão. E que dedão lindo!

Aura trepida, energias saltitantes.

Mundo perdido... E o coração? Oco, seco e rarefeito.

Ora, pois, pode haver vida no deserto?

Florestas surgem. Árvores crescem. Animais correm. A relva se estende. O orvalho pinga.

Beijo molhado, apaixonado, que respinga em meu coração e o faz mais... oco. Molhado, mas, oco.

Todos os instrumentos musicais são feitos de sopro, pelo vento ou para o vento. A voz? Precisa do ar. Que serve a música sem ar para os pulmões, para levar as palavras, para apodrecer corações, encoleirar de ódio lancinante as pessoas...

E a alma? Voando, dançando, como um silfo do ar...

E o coração? Dançando aquele indie irlandês, imaginando um violão encostado na parede, você cantarolando no meu ouvido. E o coração agora? Batendo rápido do susto de quase ter perdido o ponto que este corpo surrado ia desembarcar.

Diego B Fernandes Dutra
Enviado por Diego B Fernandes Dutra em 13/02/2017
Código do texto: T5911793
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