QUAL A MELHOR TORTURA?
Meu primeiro contrato com a tortura foi foi no limiar entre 1963 e 1964 através da janela do bonde. Cruzávamos a ponte da Azenha em Porto Alegre, quando avistamos, quase em frente ao Hospital Ernesto Dorneles, um aglomerado de pessoas.
No outro dia a vizinha mostrou-nos o jornal. Batendo na foto de um homem, dizia:
- Este desgraçado tinha que ter morrido, ele colocou meu sobrinho no pau de arara. Ele apropria-se com o que é roubado e depois tortura, para que eles fiquem com medo e não contem nada!
O jornal trazia a notícia do aglomerado de pessoas, elas estavam na calçada e lá no alto de uma das janelas, estaria o inspetor Tourinho, recuperando-se de uma cirurgia, depois de ter tomado um navalhaço, enquanto assaltava um estabelecimento comercial em Cachoeirinha.
Quando entramos em casa, perguntei para mamãe o que era pau de arara. Ela deu-me uma explicação superficial e mandou-me brincar.
Por alguns dias aquela história de tortura me atucanou, pois ficava pensando como alguém poderia fazer aquilo com outra pessoa.
Sobre tourinho, ele até então era tido como um policial linha de frente, bom de investigação, mas pelo assalto e outros crimes, não foi perdoado pela maioria dos delegados e agentes da Guarda Civil, embora alguns tenham se cotizado e contratado a defesa do malfeitor.
No final ele foi condenado e perdeu o cargo público. Aparecendo mais algumas vezes na mídia por envolvimento noutros crimes.
Depois de adulto encontrei um veterano, que dizia ter sido colega de Tourinho na Polícia, conversa vem, conversa vai, ele disse-me, que era diferente de Tourinho, pois não tinha o costume da tortura física, mas também tinha bom desempenho nas investigações.
Aproveitava os gritos e gemidos, vindo da sala de Tourinho e amedrontava o investigado, dizendo que precisava sair e pediria para que o colega o interrogasse.
Segundo ele funcionava, pois quando retornava o interrogado estava pronto para dar o serviço, devido a expectativa da sessão de tortura que imaginava que seria submetido.
Conforme ele explicou-me, a técnica era eficiente somente com os novatos. Para justificar enveredou pela psicologia.
Enfim, disse ele, que enquanto os seres humanos ficavam na expectativa do desconhecido e da capacidade de suportar a tortura, ele podia tê-los sob controle, mas tomando cuidado, pois se experimentassem uma borrachada bem dada, saberiam que poderiam suportar a coação física e bastaria resistirem por algumas horas, ou meia duzia de dias.
Par ele, era a tortura que formava o bandido frio e sem piedade.
Sei lá, sempre tive que ele estava com a razão!