UMA CINZA SOLIDÃO


          Hoje à tarde está pintada de um cinza melancólico. O tom bucólico estampado nos céus retrata e comunga com um sentimento que invade sorrateiramente meu coração, tristeza. Esse frio sentir não traduz a verdadeira causa, mas, o efeito sentimental é devastador. O silêncio da palavra grita a todos pulmões e o meu ser se nega a ouvir, simplesmente sussura de volta ao vazio, não me abandone aqui! O fantasma da distância parece criar um vulto cada vez maior. Minha penitência é sofrer por um amor proibido, indefinidamente.

          Uma canção embala as lembranças, enquanto o telefone mudo guarda tua imagem inerte, emoldurada num tempo que já não tem mais futuro e o passado parece esvair-se aos poucos da mente embotada pela dúvida cruel. O presente reserva dor, separação em partes desiguais, incompreendidas, incompreensíveis. Sentimentos largados ao vento, fadados a cair nas garras do esquecimento. Corações partidos, desesperados, na frieza de uma realidade anunciada feito uma tragédia Grego-Romana. Os deuses do amor simplesmente lavaram suas mãos com as lágrimas caídas dos tristes olhos do destino.

          A dor da partida antecipada anestesia o bem querer maior. Os lábios cerrados já não beijam. As mãos que outrora se entrelaçavam agora não passam de frias digitais! O desejo latente, ardente, já não pulsa, não move mais sonhos partilhados, estes, esquecidos ou adormecidos, enterrados vivos. O brilho do olhar apagou-se e com ele à luz do amanhecer, da aurora prometida todos os dias, no gozo do prazer! As incertezas são o cárcere da alma, que aprisionada numa jaula circular de ouro, não consegue nunca comprar a liberdade que tanto se almeja ainda em vida. E assim o cinza da tarde é engolido silenciosamente pela noite que promete esconder todas as estrelas do meu firmamento moribundo pela tristeza! A isto chamo solidão...
Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 13/02/2017
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