Rochela - um pedacinho da Itália
Rochela era um pedacinho da Itália encravado nas vertentes da serra no sul de Minas Gerais. Nesse pedacinho do paraíso, em uma tarde de brisa leve o velho Colombi cochilava sob o caramanchão de buganvílias enquanto raios de sol infiltrando-se através das pétalas criavam a ilusão de lhe amorenar a tez; na cozinha, ao som do rádio, Ema pilava café.
De repente a notícia: Morreu Francisco Alves!
A mão de pilão parou no ar. Ema saiu à rua desvencilhando-se do avental, seus cabelos habitualmente bem arrumados sob a touca de renda negra estavam lugubremente desgrenhados e pareceu-me que seu estrabismo mais se acentuara naquele dia em que todo o Brasil morreu um pouco. Lá dentro, após adensar o clima com “cinco letras que choram”, o speaker anunciava o creme Rugól.
Sobre a terra
Há outros desertos.
Dunas de areia açoitadas pelo vento que as modela e transforma, alteram a inóspita paisagem.
A vegetação minimalista, de um colorido pardacento, atua como elemento de fundo à mimetização de pequenos animais extremamente adaptados, rústicos e solitários.
A lembrança de rios temporários, rios que há muito tempo cumpriram seu ciclo nas planícies aluviais, atrai predadores e presas, surgindo deste equívoco coletivo um abundante território de caça onde a cada instante renova-se a luta pela vida. Às vezes aparecem alguns homens, mas não demoram partir. Há outros desertos.