SANTO ÂNGELO: NATAÇÃO, BULLING E CHURRASCO
SANTO ÂNGELO: NATAÇÃO, BULLING E CHURRASCO
Minha relação com água nasceu bem cedo. Em Santo Ângelo, Rio Grande do Sul, havia um rio perto da cidade, e a piazada (ou gurizada, em São Paulo molecada) ia sem as mães saber, nadar, ou melhor, se jogar de uma árvore cujos galhos ficavam sobre o rio. Eu tinha um seis ou sete anos e seguia os maiores. O único cuidado era não molhar a roupa. Chegar em casa de roupa molhada era surra na certa. Então todos nadavam nús, competindo quem dava o melhor salto e, graças a Deus e aos anjos da guarda, nunca houve um acidente grave. Era um espinho no pé, uma corrida de uma vaca brava. Acabado o banho de rio, a gente ficava um tempinho esperando o corpo secar, vestia a roupa e voltava para casa com a maior cara de pau. As mães nem imaginavam onde seus filhos andavam. Bem diferente de hoje que as crianças, que as crianças fazem, ginástica, inglês, sapateado, ballet, judô, Muahy Thay, etc.. Tudo em academias, com professores. Não tinha nada disso. Era um bando de moleques que não sabiam nadar se atirando no rio e aproveitavam o impulso do salto para chegar na parte rasa. O quartel em que meu pai trabalhava construiu uma piscina para os oficiais, era “imensa” para mim. Comecei a me jogar na água e, no impulso, me agarrar na borda. Ia cada vez mais longe, começando a imitar as pouquíssimas pessoas que sabiam nadar. Uma braçada, duas, cinco, seis.. pronto! Estava nadando, atravessava a piscina. Sem professor ou técnico.
Em 1952 comecei o primeiro ano primário no Grupo Escolar Onofre Pires. Por ser paulista, os garotos gaúchos tentaram fazer “bulling” e me chamavam de “pão paulista” (uma espécie de pão sovado da época). Todo dia tinha briga depois das aulas. Bati em todos que enfrentei até que um garoto mordeu meu dedo e quase amputou. Era muito sangue. Mas acabei com o “bulling”. No mais era jogar “bolita” (bola de gude) e outra brincadeiras.
Havia um Clube dos Oficiais, longe da cidade e realizavam almoços com uma delícia chamada churrasco. Eu adorava comer uma costela assada em fogo de chão, com maionese só de batatas e farinha. So usavam boi charolês, pois não se criava boi zebu no Rio Grande do Sul. Comer zebu era de mau gosto, Só vim conhecer cupim em Curitiba, anos depois, que é a corcova do boi zebu. Hoje, passado tanto tempo, me convenço que a infância foi, para mim uma época mágica, de descobertas, de aprendizagem. Devemos conservar a vida toda nosso “coração de menino”.
Paulo Miorim 11/02/2017