CORRENDO... ATRÁS DO TEMPO!

Fizemos das tripas coração.

Nosso suor escorria em gotas quentes e sujas de poeira da arrumação. Uma hora mais e havia chegado o momento:

Inauguração de nossa Agência.

Estávamos há cinco dias remexendo caixas e arquivos e organizando o espaço físico da nova agência: layout, fios, luminárias, mesas, cadeiras, balcões, lixeiras,vasos e plantas, microcomputadores, canetas e pastas, cash dispenser e calculadoras, fotos e capacete do Ayrton Senna, cavaletes, painéis, e tudo o mais.

Gerentes e serventes, lá fomos nós tomar um banho rapidinho no salão aos fundos da recém-reformada construção. Não tínhamos meios de ir até nossas casas. Eu, na Santa Cruz, Dieter na Vila Madalena, Mirella na Vila Mariana, Irina, no Brooklin, e os outros, tantos quilômetros também.

Ah! Como desejamos, nesta hora, podermos nos locomover rapidamente e chegarmos todos maravilhosamente perfeitos e descansados para receber nossos convidados.

Mas, mesmo assim, de brilhos e rendas, lá estávamos nós recebendo o representante da Família Senna, os parentes de Rubens Barichello, a Superintendente da Caixa Econômica Federal (CEF) Vânia Telma, o Diretor Adjunto (CEF) em Brasília, todos os Gerentes do Escritório de Negócios Paulista, e colegas, que foram amavelmente nos prestigiar. Sim, brilhamos!

As plantas verdejantes quase gotejavam, recém-saídas de suas estufas, bolas de Natal anunciavam o final do Ano se aproximando, uma banda tocava com entusiasmo “I’m living today”... Estávamos vivos!

Lembram das fotos? Emoção à flor da pele!

Saímo-nos muito bem: nós sete, apenas sete funcionários. Merecemos todos os aplausos, fazemos parte dos que, de fato, batalharam incansavelmente por esta Caixa Econômica Federal.

E acredite, se ficou faltando algum pino ou tomada, ou qualquer coisa assim, a gente tirou de letra nos dias seguintes.

Todo o pavilhão, centímetro por centímetro, ficou impregnado de luz, da imensa energia que só poderia emanar da força e da determinação de quem se predispôs, de antemão, a fazer aquela agência dar certo, custasse o que custasse, mesmo num lugar tão inóspito, reconhecidamente perigoso.

Ainda tivemos alguns ajustes daqui e dali; recebemos mais uns empregados e a chegada de estagiários, cujo despreparo esbarrava com a multidão que, dia após dia, ia se avolumando em nossa agência.

Sr. Felisberto, peão da obra, ficou amigo da gente. Ia pro sítio, vez por outra, e nos trazia mandioca e leite puro: nosso café da tarde. Outros dias a gente fazia pipoca, e os últimos clientes se sentiam em casa.

Um mês depois, após sucessivas quedas do sistema central de computadores, aconteceu um fato inédito.

- Hoje não abriremos.

- O quê?!

- Hoje não conseguimos colocar a agência no ar! -explicava nervosamente, pelo telefone, nossa Gerente Geral, ao Escritório de Negócios (EN), certamente incrédulo.

Num ímpeto de desespero, Mirella chamou umas Kombis de Lotação e encaminhou aquele povaréu para as agências mais próximas. Mulher de coragem! E tem mais, bancou todos os passes!

Não me admira que aquelas gentes humildes se negavam a procurar outra Unidade, e por mais lotada que estivesse a Agência Ayrton Senna, eles aí estavam, sentadinhos ou de pé, mas ali, aguardando que nós os atendêssemos.

Traziam a vizinha, a mãe, o tio, a avó, as crianças; aquilo era quase uma festa ou o mercado público, qualquer coisa assim.

Marina Eliza tinha sido educada com uma certa finesse, e se vestia muito bem, mas, um belo dia, perdeu a classe. Levantou-se (no caixa), mãos no balcão, muito braba exclamou:

- Quem é a mãe destas crianças correndo de cá e de lá? Isto aqui não é um parque de diversões! Isto aqui é um Banco! E a gente merece um pouco de respeito!

Sentou-se e respirou fundo. Continuou a atendê-los, olhos baixos, segurando-se para não explodir.

- Por que é que eu não nasci madame? – resmungou pro teclado.

O simplório senhor a sua frente, olhos bondosos, pausadamente, disse-lhe:

- Mas a senhora já é madame!

Pronto! Desmontou... Qualquer sentimento ruim se diluía diante de tão generosos sorrisos, diante de pessoas tão humildes.

Mais um mês se passou... e o tal do SIGEF teimava em não funcionar.

Passei horas na Agência Interlagos decifrando segredos do BBS, SICAF, SIGEF e outros mais softwares de necessidade absoluta. O difícil na CEF é que quando você atualiza um programa, nova versão já vem chegando. E eu corri, todo dia, atrás da máquina do tempo, tempo que passava voando, papéis iam se acumulando, processos por analisar, clientes solicitando, e o painel a apitar...

(meu esqueleto vivia sofrido, cansado... a osteopenia já se instalara).

Mas, o melhor de tudo era que tínhamos fôlego para, juntos, tomarmos café da manhã, e que delícia! Juntos, festejarmos nossas vitórias e, juntos, bebermos todas! Que equipe!

Até hoje, sinto angústia de lembrar, que às três, quatro, às vezes, cinco horas da tarde, alguns colegas e os gerentes continuavam sem almoço, atendendo clientes e clientes, sem tempo sequer para cuidarem de si.

Felizmente, tínhamos o Dieter. Louro, bonito, com jeito alegrinho de rapaz do interior, sabia tudo de contabilidade e fechamento de agência.

Eu ia e vinha, dias e dias, naqueles ônibus fedidos da Várzea do Genézio, que demoravam duas horas, às vezes mais, até chegar em casa. Acabei feito uma maria-gasolina. Passei a esperar o Dieter, pacientemente, até fechar a agência, e, para, juntos, comendo rosquinhas, irmos embora no seu possante Monza.

Um belo dia, resolvemos inaugurar a churrasqueira aos fundos da agência, no nosso estacionamento. Convidamos os colegas da Agência Interlagos e da João de Lucca. Festejamos e rimos muito. Dançamos e nos esbaldamos, ouvindo músicas num CD player. Nossas risadas ecoaram pela vizinhança.

Mas, aí... meu caro leitor... apareceu um sujeito escroto!

Era só o que faltava! Um daqueles desgraçados, cheio de cheques sem fundos na praça e pelo Brasil inteiro, cuja conta tinha sido aberta, claro!, com documentos falsos. Meteu-se a perseguir e a ameaçar, assustadoramente, a Gerente. Mirella teve de acionar a Segurança, depor na delegacia, viver um longo tempo com escolta para não ser morta como tantos outros já haviam sido.

Bom, o fato é que terminamos o primeiro semestre de 1999 acima do imaginado. Sabe o que mais? Conquistamos o primeiro lugar no Ranking do Escritório Negócios Paulista, hoje, Santo Amaro. Nossas metas foram atingidas e superadas!

Só sabe o sabor de vencer, quem, com garra, com entusiasmo, com alegria e determinação, chegou ao pódio. Somos vencedores!

E não há como mensurar tamanha vitória!

O sentimento, a gente divide com quem chegou lá, e, mesmo que seja breve, sempre abriremos um imenso sorriso ao trazermos à memória presente momentos tão fortes.

Mirella Aimée assumiu nova agência logo depois.

E outro Gerente também muito especial chegou.

E, assim, a Agência Ayrton Senna vai cumprindo a sua difícil missão.

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Esta crônica recebeu Menção Honrosa, no Concurso de Poesias e Contos da APCEF/SP (Assoc.Empregados Caixa E.Federal), em 2001.

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