As PRIMEIRAs SEMANAs DE AULA ("A falta de transparência resulta em desconfiança e um profundo sentimento de insegurança".Dalai Lama)
Na primeira semana de aula, aparecem alunos de muitos lugares, com muitos perfis, porque a escola não seleciona seus alunos: o filtro é frouxo. À vista disso, enche as salas de gente devendo documento, muitos deles nem tem plano de ser aluno, muito menos de ser estudante, estão ali para se mostrar, aproveitando a farra ou fazendo farra. Na data determinada pelo o calendário escolar, as aulas têm que começar, por isso, funcionam de qualquer jeito, pois o horário de aula não está pronto, cheguei a lecionar até três aulas de filosofia numa mesma turma na mesma semana. Mas, eu mereço, porque sou pontual e assíduo! Porém, muitos desses visitantes dos primeiros dias querem só pegar a autorização da escola para adquirir o vale transporte e carteirinha de estudante, depois saem. Outros vêm, fingindo de aluno, para vigiar a namorada até ganhar segurança de que a tal estará em lugar seguro ou só para dizer que ela tem um dono, logo não retornará mais. Outros ainda vão para a sala do terceiro ano do Ensino Médio, mesmo sabendo que foram reprovados no segundo: vai que cola...! Eu já vi alguns alunos que "formaram", e outros que mudaram de escola, mas aparecem nos primeiros dias para matar a saudade dos colegas ou ostentar que foram matriculados no colégio militar, ou em um outro particular; dentro de uma semana, vão embora; mas deixam a sua forma de mau comportamento. Em todas as minhas aulas desse período temporário, aplico uma atividade genérica, sabendo que nem posso cobrar aprendizado, ai de mim se aplicar uma avaliação na segunda semana de aula! Por esses motivos, resta-me levar um lápis para acrescentar muitos nomes fantasmas nas listas provisórias de chamada, pois muitos que estão ali, nem foram devidamente matriculados. E a rotatividade dos flutuantes tiram nossa estabilidade sem medo de punição.
Já na segunda semana de aula, começa o rodízio, aparecem os espertalhões, que aproveitaram para dormir em casa um pouco mais. São conscientes do mau andamento das atividades escolares nesse início. Então, levaram algumas faltas nas folhas improvisadas de chamada, mas nem se intimidaram, elas não os prejudicarão, são poucas demais e leva um tempo para cadastrar as turmas no sistema informatizado. E isso não será feito até que os professores esquadrinhadores da harmonia, mexam com alunos de todas as salas, remanejando-os para separar os conversadores dos outros conversadores, misturando-os com os "nerds", e alguns professores continuam pedindo as mudanças, mesmo percebendo que a medida não resolve nada: a aparência de laboriosidade garante o perfil. Eu até me dobraria em elogios, se as turmas fossem compostas por dedicados e não dedicados. Se mudando de lugar, mudasse o caráter do aluno, estaria valendo, mas não muda, apenas a fruta podre apodrece as outras.
No início da terceira semana, quando o horário de aulas já está pronto, mudam-se as normas da modulação, porque não podia daquele jeito, reprovou a Secretaria de Educação. Lá vai o diretor "remodular" todos os professores e então, mais uma semana sem horário novamente. Confusão total! A constante mudança faz parte da estratégia das autoridades da educação, para manter a unidade dependente e apreensiva, "pisando em ovos". Se tem que mudar nunca se especializam em nada, essa é a ideia, a rotatividade não dá tempo para melhorar nada. Aí descobre-se que o quadro de professores não está completo, não sobrou nenhum para ser o coordenador; porém, as turmas não podem ser liberadas mais cedo, e o circo pega fogo. Os veteranos se desdobram além do limite.
Só no segundo mês, depois do "Carnaval", a poeira vai baixando e uma boa porcentagem dos 209 dias letivos já foi para o ralo. E acho uma boa medida, se a primeira semana de aula já tivesse o horário das aulas, alunos com seus livros e uniforme. A direção só desse o tiro para largada quando todos estivessem prontos para a competição. Assim, a credibilidade aumentava. Infelizmente é o que acontece todos os anos, importando-se mais com a quantidade, que tem a ver com a aparência; em detrimento da qualidade, que tem a ver com resultados. O bom seria, só convocasse os atletas para correr quando a pista estivesse pronta. Disse J.F. Leão: "A prática do trabalho em equipe com respeito, lealdade, generosidade, empatia, transparência, são fatores essenciais para uma conduta ética e vencedora."