a mocinha e o bebado
Olhar esse homem caído no chão, o sol lhe queimando a pele escura de outras quedas, a boca entreaberta, o ronco dos justo em sua boca febril e alcoólica, ninguém o vê, invisível apesar de toda sua exuberância, a garrafa tombada, vencida pelo seu desencontro com a vida, pelo menos dessa vida dos bons moços, dos trabalhadores, dos pagadores de impostos, dos casados, dos responsáveis, dos que são bem vindos nas igrejas e nas praças. O homem caído e nós de pé, entretanto, caído de outro jeito, caído no engodo dos que andam, dos que não se entregam, dos que cumpre com rigor a rigidez vendida pela boca do boa moral.
Uma mocinha passa, absorta, não está nem ai para o bêbado caído e pra esse outro que escreve , desiludido ( uma queda mais sofisticada), não pensa nessas bobagens que só o tempo lhe força a perceber, a mocinha está na eternidade, lugar que o tempo esfacela se encostar, a mocinha voa por entre os dedos de um belo sonho, quem sou eu para acordá-la, de verdade nem quero, também é bonita as coisas que dormem, a beleza na palma da mão. Deixo o bêbado, deixo a mocinha e assovio uma canção bonita, essa noite promete.