MINUTOS DE SILÊNCIO
Há quem diga que escolhemos estar neste planeta. Que antes de nascermos, antes mesmo da fecundação, fomos preparados em outro plano dimensional e optamos por estar na esfera terrena. Nesta humanidade que caminha ao futuro, por vezes, sem, ocasionalmente, compreender o que se incide no presente. Que é conduzida por alguns, por uma ideia de valor irresoluto e, que mesmo assim, se apega a ela, sem refletir qual é a sua significância. Sem olhar para dentro de si e descobrir a riqueza que existe em cada um. O advogado e ativista indiano, Mahatma Gandhi, nos advertiu certa vez que “o futuro dependerá daquilo que fazemos no presente”. Não poucos vivem de fora para dentro, uma vez que o ideal seria o contrário. Seria relevante que encontrássemos as respostas em nós mesmos, em nosso íntimo, no ser interior que habita em nós para podermos transparecer o que ainda se pode revelar, todavia está camuflado, prensado, árido por uma escassez de trato, por carência de regar o jardim que cada um traz em si e que está esperando para brotar e reverberar em todos os ambientes que possa alcançar.
De outro modo não é em vão que, quando certa consternação invade o nosso ser, permaneçamos sem chão. Neste instante pode transluzir que estamos sem norte, ou correndo contra o tempo. Podemos dizer que fios de alta tensão internos estão em curto, pois podemos não ter abraçado a farpa da intuição, a energia da sabedoria para adotar uma visão profícua. O cientista inglês, Isaac Newton, afirma-nos que “o que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano”. E a partir daí se tornar refém da ética alheia, de grupos que dominam as criaturas, de tal forma que elas não sabem mais onde está a sua raiz. Elas foram levadas como plumas pelo vento que passou. Foram invadidas por ideias, alusões e traços de identidade que lhe contestam de forma constante o início e o fim. Vale-nos dizer que há influências por todos os lados. Os princípios basilares que transcendem o subconsciente são os que movem e lhes acessam em todas as circunstâncias, principalmente naquelas de grande emoção e, quando não há condição de ponderar sobre o que é sensato. Quando olhamos de forma analítica para o ser humano, sentimos que esse, eventualmente, não é capaz de voltar a si mesmo e se compreender como um ser de aprendizado constante; que está invariavelmente em evolução.
Ressalta-se que já ouvimos dizer que diante de uma vida que fora ceifada, mesmo após intensos tratamentos médicos, muitos não demonstraram caridade em atitudes e palavras. Aqueles indefinidamente não relutaram em criticar aquela que se encontrava enferma. Segundo alguns textos judaicos “a verdadeira caridade é praticada em segredo. O melhor tipo de caridade é aquela em que quem a faz, ignora quem a recebe, e quem a recebe, ignora quem a faz”. Ainda assim os julgamentos eram por possíveis erros cometidos, durante o caminhar da experiência vital. Compreendemos que a criatura humana deveria buscar a perfeição a todo o tempo, pois esse intento é infinito e pertinente à nossa missão. Entretanto, indubitavelmente, a excelência humana plena, é algo inatingível, pois é de uma grandeza extrema que não somos capazes sequer de olhar, de senti-la, em razão de nossa pequenez imensa. Mesmo assim ainda existem os que por complexo de tamanha grandeza, deslembram que todos os homens e mulheres são mortais; esquecem que viemos do pó e ao pó voltaremos; que a existência é construída rotineiramente; que todos os dias são oportunidades de preparação, pois em cada quotidiano há um novo recomeçar.
Não é raro, por exemplo, presenciarmos midiaticamente personalidades que já foram admiradas por condutas e ações perante a injustiça; por sua prosperidade, e que quase de uma hora para outra se tornaram notícia nas páginas policiais. Fato é que não existe uma verdade absoluta. Existem convenções, normas, costumes que se precedem para que o bem comum esteja prevalecendo em detrimento ao bem individual. Uma claudicação pode ser um aprendizado. Existem também deslizes que são inquestionáveis e inconcebíveis. Por outro lado há também aqueles que erram, pretendendo acertar! E os que se equivocam por carência de conhecimento e experiência! O reconhecido, físico teórico alemão, Albert Einstein, enunciou certa vez que “o único homem que está isento de erros é aquele que não arrisca acertar”. Lado outro é descabido errar por dolo, por vontade expressa de fazer o mal, de prejudicar a si e aos outros. Ainda assim somos humanos! Não é indispensável preterir o que alguns cometeram em nossas vidas ou na dos que veneramos. Entretanto é breve inferir que diante de uma grave enfermidade, ante o trânsito final, temos que nos consternar, ainda que seja por alguns minutos de silêncio, em respeito à criatura humana, em deferência ao direito de dignidade, independentemente de sua condição presente. Destarte, não nos olvidemos das palavras bíblicas (Jo, 8:7), em que o Cristo Jesus nos proferiu, há mais de dois mil anos: “se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela”.