Cronica de uma tarde

Estar sentado num boteco às 14 horas num calçadão no centro da cidade. A biblioteca em sua imponência na esquina, os estudantes de todos os estilos desfilando num falatório oco e aparentemente sem emoção. Tomados por uma cidade decadente, que é consumidade num carrossel automático , sem que ninguém precise dar cordas, O vento abafado por calor sem movimento, o céu disponível apenas no alto da cabeça , e os prédios escondendo pessoas, escritórios, outros prédios, o horizonte entrecortado por extremidades confusas e verticais.

Meu olhar vagando entre as árvores da Praça D, José de barros , homens caminhando distraídos. Como podem existir tanta gente distráida, num sono andante e descabido, uma espécie de vagar sem expressão. Ausentes de algo, talvez do próprio coração, tão duro de carregar, imagino que todos tem um coração irascivel como o meu, viagem de quem não está em todos, mas os supõe no pensamento. Todos sem nomes, sem endereços, somente o caminhar entremeado de um certo desprezo pelo presente, enevoados, quase carregando uma invisibilidade feita de normalidade, a face pesada de acontecimentos.

No centro de tudo isso, a minha vida que no intimo se parece com esses homens, normal, invisível, ausente e reprimida, de sentido que alcança mais a sobrevivência do que a fartura. Nem um rosto feliz nesse lugar da cidade, nem rosto vivo, nenhuma andar seguro, firme, alegre, nada que denuncia a promessa de uma amanhã menos ácido. Fico pensando se a cidade toda estaria assim, se as casas da periferia, se nas escolas dos bairros grafinos, ou mesmo nos casas endinheirada também carrega essa mesma sombra feita de desânimo. Penso se essas faces são as faces desse mundo, desse novo mundo que pesa como um tormento no corpo das pessaos . Não sei resposta, sem apenas dessa D. José barros, verde, bem cuidada, mas de homens tristes e sem firmezas. O que teria acontecido? talvez o amor não ande pelo centro, por esses prédios sem sentidos, por essas ruas desoladas, onde a mesmice se confunde com a vida. Talvez o amor não ande onde haja mais mentiras que verdade, mais escuros que esperanças, talvez o amor precise de tremores, de novidades, acho que é isso, o amor não anda onde já andou. Pois onde ele andou não tem nada que faça do amor, mais amor. Onde amor andou já foi criado, já existe, faz parte da coisa dada, o amor é criação, dai só existir amor onde haja vida que flui, que muda, que anda, porque amor é movimento que não descansa.

Andrade de Campos
Enviado por Andrade de Campos em 07/02/2017
Reeditado em 07/02/2017
Código do texto: T5905507
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