O Último Grito
Engraçado que nunca atingimos um elevado estado de claridade mental como o de estar no fundo do poço. É ridículo e irônico, mas é algo que está atrelado a nossa condição humana.
De fato, em quase todos os aspectos da nossa vida há uma dualidade perversa. O amor que ao mesmo tempo é ódio e possessão, a amizade que é altruísta e dependente, a saudade que é prazer e dever.
Meu Adeus não poderia ser diferente. É desesperador e libertador. É abrir mão do meu sentimento pra ver outra pessoa feliz, ao mesmo tempo que é a escolha que visa a minha própria felicidade.
Não dá pra descrever a nossa história em meios termos. Foi extremamente memorável. E incrivelmente decepcionante. Entrei numa montanha russa. Nunca fiquei tão calmo e confortável na presença de alguém, e tampouco tão irado, espumando raiva. Tão apaixonado e tão desamoroso.
Toda história tem que ter um final. Uma última linha. Aquele ponto que fica depois da última palavra na última página sabe? Que depois dele tudo o que resta a fazer é fechar o livro e colocar de volta na estante.
Não sei dizer se esse é apenas mais um ponto no fim de uma mera frase, uma página ou um capítulo. E nem preciso. E nem quero. E para falar a verdade nem desejo. Mas é um ponto. Significa pausa. Uma pausa maior do que a da vírgula, que já tivemos tantas ao longo do livro não?
Escolho agora trocar os extremos pelo ameno. Os sentimentos avassaladores com os quais convivia até agora estavam me devorando a ponto de não conseguir sequer pensar. Essa é a hora de sentir algo diferente. Algo que com certeza iríamos concordar como sendo frágil, fraco e enganador. Mas é disso que preciso. E é isso que vou buscar.
Se vivemos a maior parte do tempo mentindo pra nós mesmos, que seja nós a escolher as mentiras que iremos contar. Parece justo.
Sem mais adendos. Adeus.