UMA CASA POLACA




(fotos do autor)

(Diário de minhas andanças)
16/09/2012


Tarde de um domingo qualquer,algo além das 15 horas.Uma brisa mansa varrendo o tempo,toques de setembro pelos quintais,ruas semi desertas...
Confabulando com meus botões sigo para uma caminhada e a expectativa de mais algumas fotos para a já tradicional postagem “Imagens de Domingo”,à noite no face.
Subitamente salta-me aos olhos aquela casa!
Distante, plantada entre colinas verdes, araucárias e palmeiras.
Dispositivos ao meu alcance fazem-me trazer para muito perto da câmera aquela paisagem quase azulada de distância.
Um click e a tenho retida em meus arquivos.Verifico a qualidade da foto e não contenho o ímpeto em criar enredo para aquela imagem.

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Ah!...Estas casas antigas ,sobreviventes em espaços verdes do Sul!

Em  pensamentos...
Cruzo o laranjal.Algumas frutas temporãs pendem entre os galhos .Branquejam floradas e um cheiro acre,quase nostálgico,incensa-me.
A porta da frente abre-se em duas folhas.Alguns sorrisos presos entre as molduras escorrem pelas paredes de madeira.Olhares de safiras,de esmeraldas,trigais nos cabelos...
Risos e poses ,os melhores, postados em retratos e lembranças.
Num vaso sobre a mesinha de centro,flores singelas mergulhadas em água de pôço.
Cruzo o pequeno corredor que dá para a cozinha.Meu olhar curioso aproveita-se do suave vai e vem da cortina florida e penetra num dos cômodos da casa.
Acolchoado de pena de gansos, colcha de crochê sobre a cama.
A imagem de “Tchestokowa”,no criado mudo, lança-me um olhar.Daqueles olhares de mãe a censurar o filho.
Um misto de reprimenda e ternura.
[Mais ternura que qualquer tipo de repreensão]
Adentro à cozinha.
É ampla e tem assoalho de tábuas largas.Um guarda comida em lugar estratégico,toalhinhas  bordadas,um  rádio sobre  a  prateleira...
[Arde num canto o fogão à lenha ]
Cheiro de broa de centeio envolvendo o compartimento.Geléias , manteiga caseira,cuca recheada e café recém coado,distribuídos sobre a mesa...
Uma polaquinha dourada afaga um gato melindroso.Seu olhar ,feito passarinho,voeja pela colina verde,perde-se entre as leiras e as mãos da babuska,alisam-lhe os cabelos de campos de cevada .Divididos em duas glebas ,as fileiras espigadas dos  cabelos da  menina,arrematam-se em laçarotes vermelhos.
Um vento maroto invade a janela fuxicando “feitos” de uma Polonia distante. Sabiás entoam a canção da tarde e a velhinha perde-se pensativa.
Palmeiras perfiladas harpejam ecos de setembro e a casa polaca retrai-se entre o arvoredo.
O ruído estridente de uma buzina acorda-me do devaneio.
Então...sigo adiante.

Joel  Gomes  Teixeira

Obs.
Este  texto foi reeditado,preservo os gentis comentários em  seu original:

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23/04/2016 09:33 - Dartagnan Ferraz
Um olhar arretado, mostrando outras culturas, um trabalho notável o seu. Sou fascinado por esse tipo de trabalho, mas sou uma nulidade,você nãosabe a inveja queeu tenhode quem sabe fotografar. E escrever de maneira tãoclara e telúrica. Abraço.
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23/04/2016 05:12 - ELIE MATHIAS
Primorosa e linda narrativa reflexo da beleza da natureza durante um belíssimo passeio. Parabéns poeta. Um forte abraço.