PONTE SOBRE ÁGUAS TURVAS



(Diário de minhas andanças)

Eu sempre cruzo por aqui.
É bem distante de onde moro,mas não dispenso o trajeto em minhas caminhadas de domingos,quando posso dar-me ao luxo de percorrer distâncias consideráveis.
A emoção se renova à cada "travessia".
Ao lado da ponte,um quase centenário  cinamomo traz-me em lembranças a figura de dona Luiza, tia de meu pai.
A árvore, carcomida pelo tempo,é um referencial daquela senhora alta, esguia, de pele morena e olhos de cor de hortências.
As águas do riacho que rolam sob a ponte,cantarolam a mesma melodia de meus tempos de menino,quando de minhas visitas em seu monjolo de farinha.
Um casebre,um riacho de águas calmas, a figura delgada de "Tia Luiza",abanando a peneira de milho.
Gorjeiam ainda em meus pensamentos,os sabiás de dezembros quase descorados pela  sépia do tempo.
Ao redor do pontilhão,brotam solenes as sempre vivas de meu "agora" e, com tão pouco, consigo mergulhar numa infinita sensação de paz e liberdade que ,exageros à parte,resultam num quase estado de graça.
Aí me vem à memória,uma das mais belas melodias de todos os tempos.
A primeira vez que a ouvi,foi num começo de tarde de janeiro de 1970.
Rádio Universo de Curitiba,apresentador:Willian Sade,um respeitado crítico musical,hoje não mais entre nós.
Referiu-se à canção,como sendo "o mais belo lançamento dos últimos tempos".
Atento,ouvi a indicação e um arrepio percorreu-me o corpo.
[Eu tinha apenas 18 anos à época]
Hoje, aos 64, o arrepio é o mesmo à cada nova audição.

Assim,juntando-se o murmúrio das aguas do riacho de tia Luiza, alguns trinados,zumbidos e gorjeios,mais a imortal interpretação da dupla de "gringos", só posso mesmo é experimentar-me em êxtase.
Como adoro partilhar com os amigos,minhas emoções,os convido a clicar no link abaixo e deixar-se levar na magia de Simon & Garfunkel,e com certa dose de imaginação,incluir o murmúrio das águas que agora  ouço,entre uma nota e outra.

Joel Gomes  Teixeira
Clic para  ouvir:

https://www.youtube.com/watch?v=4G-YQA_bsOU