CENAS de Lamparinas
...a LUZ foi embora...
A memória acendeu: antigamente na casa infante quando a energia elétrica acabava e escurecia o pânico noturno tomava conta do menino.
Angustia. Aflição. Ansiedade.
Os adultos se punham à beira do fogão à lenha a rezar como o costume barroco em Minas. E as rezas cediam aos “causos” – de assombroção e de como ludibriar a Morte.
O menino farto de carências chamava sua babá (mulher trazida da roça para mil e uma utilidades, inclusive pajear a cria branca da casa que a colheu para lhe explorar nos labores – assim eram os costumes e tradições que a “santa igreja” impunha como penitência aos menos favorecidos - infinitos afetos emanados em sua memória o homem agora lhe envia estando ela já se tornado planeta*). E a babá se recolhia com ele na saleta de onde na penumbra via as luzes dos carros passando na rua. O menino se impacientava com a escuridão. Ela lhe consolava:
- Na casa da D. Carminha tem telefone e ela vai ligar para os homens da luz.
Era assim: ter telefone em casa naquela época era um luxo. Nesta, é excesso de capricho garantido pela pós-modernidade em que as pessoas sentem interminável necessidade de se sentirem conectadas.
...a Luz foi embora...
Na época de menino a família se rodeava no fogão à lenha. Acendia lamparinas e o velho lampião de querosene. As velas eram para os santos no relicário da avó. Na rua pessoas procuravam abrigos nos lares que podiam lhes socorrer contra a escuridão. Faróis ocasionais passavam assombrando residências. Era assim: a amizade e a fraternidade: o bairro era uma família só.
...a Luz foi embora...
Busca-se a luminosidade dos celulares para encontrar meios. E se não os encontram se esforça para lembrar onde estava aquela vela. Confere a bateria reserva do tablete e do computador. Conecta-se às redes sociais. Busca-se os jornais online da cidade em busca de informação para saber quanto tempo a central hidrelétrica prevê a falta de energia. Perde-se no mar de informação que há na internet. Afoga-se no oceano bravio. Em busca de laser confere o que há no FACEBOOK, INSTAGRAN, YOUTUBE, BLOGS, VLOGS... É a aldeia global. O ser humano atinge o patamar da necessidade social e se mostra o animal sociável que é: bem mais que bando ou clã nós somos um só organismo ligado por nossas necessidades de estar em colônia. Um tenta colonizar o outro para se impor convencendo-os de suas (in)verdades.
Navega-se em todos os sítios virtuais. Lembra-se que pode escrever uma crônica. Começa a redigir. A bateria do micro chega ao seu mínimo. Corre-se o risco de perder aquilo que já foi escrito.
A energia elétrica voltou para alívio geral. Ouvem-se aplausos! É a comemoração da vitória da Luz sobre as treva.
...a LUZ foi embora...
A memória acendeu: antigamente na casa infante quando a energia elétrica acabava e escurecia o pânico noturno tomava conta do menino.
Angustia. Aflição. Ansiedade.
Os adultos se punham à beira do fogão à lenha a rezar como o costume barroco em Minas. E as rezas cediam aos “causos” – de assombroção e de como ludibriar a Morte.
O menino farto de carências chamava sua babá (mulher trazida da roça para mil e uma utilidades, inclusive pajear a cria branca da casa que a colheu para lhe explorar nos labores – assim eram os costumes e tradições que a “santa igreja” impunha como penitência aos menos favorecidos - infinitos afetos emanados em sua memória o homem agora lhe envia estando ela já se tornado planeta*). E a babá se recolhia com ele na saleta de onde na penumbra via as luzes dos carros passando na rua. O menino se impacientava com a escuridão. Ela lhe consolava:
- Na casa da D. Carminha tem telefone e ela vai ligar para os homens da luz.
Era assim: ter telefone em casa naquela época era um luxo. Nesta, é excesso de capricho garantido pela pós-modernidade em que as pessoas sentem interminável necessidade de se sentirem conectadas.
...a Luz foi embora...
Na época de menino a família se rodeava no fogão à lenha. Acendia lamparinas e o velho lampião de querosene. As velas eram para os santos no relicário da avó. Na rua pessoas procuravam abrigos nos lares que podiam lhes socorrer contra a escuridão. Faróis ocasionais passavam assombrando residências. Era assim: a amizade e a fraternidade: o bairro era uma família só.
...a Luz foi embora...
Busca-se a luminosidade dos celulares para encontrar meios. E se não os encontram se esforça para lembrar onde estava aquela vela. Confere a bateria reserva do tablete e do computador. Conecta-se às redes sociais. Busca-se os jornais online da cidade em busca de informação para saber quanto tempo a central hidrelétrica prevê a falta de energia. Perde-se no mar de informação que há na internet. Afoga-se no oceano bravio. Em busca de laser confere o que há no FACEBOOK, INSTAGRAN, YOUTUBE, BLOGS, VLOGS... É a aldeia global. O ser humano atinge o patamar da necessidade social e se mostra o animal sociável que é: bem mais que bando ou clã nós somos um só organismo ligado por nossas necessidades de estar em colônia. Um tenta colonizar o outro para se impor convencendo-os de suas (in)verdades.
Navega-se em todos os sítios virtuais. Lembra-se que pode escrever uma crônica. Começa a redigir. A bateria do micro chega ao seu mínimo. Corre-se o risco de perder aquilo que já foi escrito.
A energia elétrica voltou para alívio geral. Ouvem-se aplausos! É a comemoração da vitória da Luz sobre as treva.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 03/01/2017.
* A morte é só volta a estes elementos que nos compõem – é uma “desrreação” física, química e dormência biológica. Voltou a ser vivo planeta!
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conversandocomoautor@gmail.com