Alegria, alegria
Nada mais irreal.
Ficamos às vezes tentados a dizer que o carioca comporta-se como um alienado porque, com todos os problemas com que nos defrontamos na cidade (insegurança nas ruas, em nossas casas, em shoppings, etc., distúrbios e vandalismo urbano puro e simples, nas ruas morte de policiais e pessoas do povo todo dia de novo, problemas de mobilidade urbana, etc.), com a fragilizada economia de nosso estado, provocada pela malversação do dinheiro público a cargo dos detentores do poder, com os casos de corrupção revelados a cada dia que atingem todo o país, com tudo isso, como é que o carioca consegue manter inalterável o seu entusiasmo pelo Carnaval que se aproxima?
Mas logo depois, verificamos que muito além de insensíveis, podemos estar sendo pernósticos ou pretensiosos porque só mesmo o Carnaval, com a sua licenciosidade implícita, o samba na mão, porque já não se faz mais no pé, a volta dos desfiles das Grandes Sociedades em que se transformaram as Escolas de Samba e, enfim, os três dias de que dispomos para nos enfiarmos pela Região Serrana ou dos Lagos, só mesmo o Carnaval para fazer com que nos “esqueçamos” de todo o mal que parece nos afligir.
Se não fosse o Carnaval, ou uma vitória do Flamengo, como de qualquer outro clube “grande” aqui do Rio, em que iríamos descontar as amarguras que sublimamos por não conseguirmos impedi-las que nos acompanhem há anos?
Nesse sentido, é irrelevante e extremamente antipático que nos consideremos alienados em função do que nos acontece por preferirmos a alegria à prece, por colocarmos escondido no lugar que merece tudo aquilo que nos entristece. Para que, por um breve período, afinal, possamos entender que tudo só volta ao normal durante o Carnaval.
Rio, 03/02/2017