O inferno é aqui. (Sobre a morte de Marisa Leticia)

Há alguns anos na faculdade de letras , me apaixonei por Machado de Assis. Já havia lido obras dele no ensino médio, mas sempre há um je ne sais quoi em suas obras que me fascina. Os que me conhecem sabem bem disso.

Machado de Assis não escreveu apenas romances, existe um acervo imenso de obras dele e os contos me emocionam. Um em especial merece atenção no dia de hoje.

Não tenho a pretensão de dar uma aula de literatura sobre Machado, mas colocar aqui, pontualmente, A causa secreta, o conto dele. Para a finalidade à. Qual me proponho, vamos direto ao ponto.

O clímax do conto ocorre quando Maria Luiza e Garcia flagram Fortunato, um médico que se mostrava muito interessado nos piores pacientes, os que apresentavam os quadros mais graves e complexos, torturando um pequeno rato, Fortunato o capturou e foi cortando-lhe pata por pata com uma tesoura e levando ao fogo, sem deixar que o pobre animal morresse. Uma tortuta, literalmente e sem trocadilhos. É assim que percebe-se a causa secreta dos atos daquele homem: o sofrimento alheio lhe era prazeiroso. Mais aadiate, no desfecho do conto, novamente ocorre tal prazer com a dor alheia, quando sua esposa morre por uma doença aguda e ele vê Garcia beijando o cadáver daquela que amava secretamente. Fortunato aprecia aquele momento de dor imensurável de Garcia e até mesmo seu próprio sofrimento.

O que Machado de Assis promoveu com esse conto foi expor de forma hábil a natureza cruel do ser humano.

Hoje, anos e anos após o conto ter sido escrito a mesma natureza sádica e cruel do ser humano se revela nas redes sociais com a notícia do falecimento de Dona Mariza Letícia.

É um momento de dor absurda dos familiares e amigos da família, é um momento no qual a solidadriedade, a empatia e o amor ao próximo deveriam reinar absolutos, e o que se vê e se lê é uma enxurrada de discursos de ódio.

A literatura imita a vida, ou a vida imita a literatura? Médicos promovendo tais discursos, deixando implícito que se deveria deixar que ela morresse durante o procedimende que poderia salvá-la, achando graça e rindo por ela não ter dado entrada direto na UTI.

Em que mundo vivemos?

Realmente, como alguns dizem, o inferno é aqui.

Isabel Cristina Oller
Enviado por Isabel Cristina Oller em 02/02/2017
Reeditado em 23/02/2017
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