JOVENS OCIOSOS?
Em nossa contínua caminhada do dia adia, deparamo-nos com situações que às vezes nos obrigam à manifestação. Em muitos casos, não nos expressamos exteriormente, fazemos apenas uma análise interna e tudo fica preso e protegido em nossa mente. Em outros casos, queremos mesmo é expor nossa opinião na tentativa de melhor entender os fenômenos. É justamente para entender algumas questões que decidi grafar as imagens que registro diariamente, tanto em minha pacata cidade, quanto em outras regiões quando por ventura viajo a trabalho ou a passeio. São dezenas, centenas ou milhares de jovens que não buscam uma ocupação plausível, vivem perambulando pelas ruas e praças, sentados em grupos ou em bares bebendo e jogando. Algumas são práticas sociais normais, no entanto, quando se tornam constantes, a vida desses jovens ganha outra conotação que culmina com a ociosidade e passam o resto da vida nessa maresia ou tornando a vida dos outros um caos. É a chamada geração nem – nem. Nem trabalham, nem estudam. E os que estudam, não dão o devido valor ao conhecimento.
Não posso negar, em nenhuma hipótese, a importância da convivência social, não do modo que sinalizei acima, mas de modo sadio, agregando a todos, valores éticos e culturais. Do mesmo modo, não posso fechar os olhos para a crise que assolou a economia e provocou milhares de desempregos. Estes, não tenho dúvidas, estão na batalha para adquirir uma nova forma para comprar o pão, não lhes resta tempo para ociosidade.
Como moro em uma cidade, trabalho em outra e estudo em outra mais longe ainda, observo diariamente a passividade com que aqueles jovens levam a vida. Ontem decidi sair mais cedo de casa para ter uma conversa com alguns daqueles jovens que tinha certeza absoluta de encontrá-los sob a sombra das arvores nas margens da rodovia. Parei no acostamento, apresentei-me ao grupo que se encontrava dialogando, os jovens todos descamisados, uns cuidando de umas gaiolas, outros alimentando galos de briga. Os celulares, claro, presente no corpo de cada um. Após me tornar parte do grupo, perguntei na lata: - Por que vocês não estão trabalhando ou na escola? As repostas foram diversas, não caberiam todas aqui. Então compartilho algumas: - Já terminei a escola; não estudo mais; não é todo dia que vou para a escola; o cão quer saber de escola; não tenho trabalho; aqui não tem o que fazer moço; sair da escola, não aprendia mesmo; não tem emprego pra nós.
Fiquei mais alguns minutos com eles jogando conversa fora, depois me despedi e fui embora, obrigações me aguardavam. Não parei de pensar nas respostas que ouvira. Tinham eles razão? Tudo estava perdido? Habituaram-se a uma situação de passividade e conformismo? Quanto ao futuro? Foi com esses questionamentos que me lembrei dos dizeres do grande Machado de Assis em sua célebre obra, Memórias Póstumas de Bás Cuba, “Lutar. Podes escachá-los ou não: o essencial é que lutes. Vida é luta. Vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal.” Verdade, parabéns ao grande Machado que tanto tem a nos ensinar. Ao chegar ao meu destino, tomei um café enquanto imaginava nas possibilidades que aqueles jovens tinham para preencher o tempo ocioso e mudar para melhor suas vidas. Ir à luta, estudar, procurar aprender algo técnico, seja numa oficina ou em um laboratório, praticar esportes, ouvir e aprender músicas, danças, cultura, se abrir para as possibilidades, viver. O mundo é grandioso, tem espaço para todos, mas cada indivíduo deve conquistar seu pedacinho ou perecerá. O ser humano não foi concebido apenas para a arquibancada, como espectador, mas para o palco, como protagonista. Ratificando Machado de Assis, a vida só é vida enquanto houver luta. Será a preguiça também um empecilho ao desenvolvimento do país?