AINDA QUE EU FALASSE A LÍNGUA DOS ANJOS, SEM ADOÇÃO EU NADA SERIA

(A você, minha criança ainda desconhecida).

Hoje ao entrar em teu quarto, acendi todas as luzes de um único relance.

Fixamente observei a parede fria como a noite de inverno sem a fogueira de São João. Permaneci em agudo silêncio, porque aprendi com Guimarães Rosa, no romance "Grande Sertão: veredas", que "o silêncio é a gente demais".

Silenciosa e epifanicamente imaginei a tua chegada da escola e dos passeios adentrando o teu lugar de descanso que está frio e cheio de ausência. Talvez não tão gélidos quanto o artigo das leis e de processos guardados no arquivo morto ou estático na sala confortável de um juiz.

Oh! Minha doce flor vermelha! O que nos separa é apenas um papel sem lirismo ou uma pasta com um estalar de elástico tão seco como o rio da obra "O cão sem plumas".

Neste silêncio gritante de teu quarto, minha criança cândida que nem sei o nome, chego a conclusão de que a lei é mais dura que o concreto da parede da casa. O que é preciso para ter o seu quarto habitado é tão simples e tem um único foco: A EMERGÊNCIA DO AMOR E DA FAMÍLIA que simboliza ADOÇÃO DE ALMAS.

E nesta doce emergência de milhões de abraços, quebraremos o gelo da parede de uma casa e lhe receberemos muito além do abrigo de afeto de nossas almas comunicáveis...

Sinto ainda que mais vazio que o teu quarto aqui deve estar a tua alma pueril, sem maldades e preconceitos, sem a dureza da lei dos homens que precisam entender uma singela mensagem: "ainda que sejam muitos os títulos acadêmicos e a sabedoria dos homens, SEM O AMOR NADA SEREMOS".

No entanto, aguardaremos a tua chegada como espero agora ao escrever esta crônica ouvindo a música "Monte Castelo", na voz de Renato Russo. Nela, certifico que "só o amor conhece o que é verdade; o amor é um solitário andar por entre a gente".

Portanto, sei "minha estrela da manhã" que em algum lugar muito próximo ou distante tu estarás saltitante. E direi com doçura que a nossa casa será a tua casa, a nossa família será a tua, o meu povo será o teu povo. E compreenderás que o amor "é servir a quem vence o vencedor e então veremos face a face".

Rosidelma Fraga

Boa Vista- RR, 02 de Fevereiro de 2017.