Lições da Roça

Nascido a alguns quilômetros da sede do município, meu mundo era a roça. Mesmo ainda não tendo lido a carta de Pero Vaz de Caminha, aprendi que ali “em se plantado tudo dá”. Apesar de localizar-se no seco sertão do Nordeste, a proximidade do rio São Francisco me fez conhecer a “plantação de vazante”. Ou seja, independentemente da chuva, à medida que o rio baixava de suas periódicas enchentes, plantava-se no seu terreno úmido. Era essa a bênção do ribeirinho, que dali colhia seus frutos da chamada lavoura temporária. Tinha de plantar uma boa semente, pois o tempo não permitia o replantio. Logo o rio encheria novamente para depois ceder outra vazante. E, nesse ciclo do vai e vem, o sertanejo garantia a sua colheita. Vivia naquele mundo distante do progresso, mas tinha uma grande riqueza: o caráter. Nem sabia o que era a corrupção.

Hoje, morando na cidade grande, depois de passar por tantas outras pequenas, vejo que o progresso trouxe grande melhoria para homem. Mas, por outro lado, na ânsia de crescer a qualquer custo, afetou-lhe o caráter. Aquele que, usufruindo de todo conforto, eis que, de repente, vê tudo desmoronar-se. Passa a ver o sol nascer quadrado, dentro de uma cela, que, comparativamente às suas mansões, pode-se chamar de “chiqueiro”. E a imprensa, caprichosamente, faz questão de mostrar a humilhante situação daquele que, antes poderoso e arrogante, caiu na esparrela, levado pela ganância. E isto nos lembra a parábola do cão vira-lata, solto, e o de raça, preso no canil. “Prefiro ser um pobre livre, a um rico sem liberdade”

Irineu Gomes
Enviado por Irineu Gomes em 02/02/2017
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