Imaginações ...
Na manhã seguinte o dia amanheceu ensolarado e menos
frio. Saímos bem cedinho, e para chegarmos á cidade mais próxima, andaríamos aproximadamente 3 horas, em uma pequena charrete puxada por um cavalo, que nos foi emprestada pelo meu tio.
Tio José era a pessoa mais doce que eu conhecera, casado
com minha madrinha era o irmão mais velho de mamãe. Nas viagens
de meu pai, e nas suas ausências, muitas vezes, em casos de emergência, era a ele que recorríamos, e por isso era ele a pessoa
que muitas vezes nos socorria, tanto em momentos de alguma
doença em casa, ou qualquer outra necessidade.
Chegamos a cidade as 9:00h da manhã. Eu estava ansiosa
para chegarmos á loja de tecidos, chamava-se Casa Gaúcha e ficava
no centro da cidade. Ali podíamos encontrar todo o tipo de tecidos, calçados, etc ...
Lembro até hoje, que todas às vezes, que entrávamos naquela loja, minhas irmãs e eu, ficávamos inebriadas com o cheiro
de tecidos novos, que exalavam daquelas pilhas e pilhas de tecidos
de todas as estampas e cores. Ao entrarmos na loja, mamãe preocupada falou:
- Filha! Temos pouco dinheiro! Seu pai deu-nos todo o valor que podia! Então, lembre-se que temos que pesquisar os preços,
como sempre! Precisamos comprar calçados e seu material escolar!
- Mas mamãe! E meu uniforme escolar! Quando iremos
comprá-lo?
- Veja bem Lay! Exclamou mamãe, seu pai ainda não resolveu
em qual escola você vai estudar, por isso seu uniforme será comprado quando isso estiver decidido.
- Está bem mamãe! Respondi um pouco decepcionada.
Mamãe procurou a balconista que sempre a atendia e disse:
- Marta minha querida! Precisamos de alguns tecidos, precisamos de roupas íntimas e sapatos para esta menina. Marta, muito atenciosa, era filha de uma amiga de mamãe, com muito carinho conduziu-nos para o interior da loja.
Compramos os tecidos, que havíamos escolhidos, sapatos, e algumas peças de roupas íntimas. E o mais importante, o primeiro sutiã.
Dizem que o primeiro sutiã, nenhuma menina esquece, e
eu tive um motivo muito grande para não esquecê-lo.
Chegamos a nossa casa quando já estava escurecendo, e
estávamos muito cansadas.
Naquela noite, fui para o quarto mais cedo, antes de minhas irmãs menores, queria experimentar novamente o meu belo
sutiã.
Como sempre, fiquei deitada na cama com os olhos fechados, e fazendo aquilo, que eu pensava ser “imaginação”. Era como se eu entrasse em transe, meu espírito parecia desligar-se do corpo, e eu podia ver e imaginar coisas. Nessa noite não foi diferente, só que para a minha surpresa eu não estava mais em meu quarto. Estava em um lugar que eu nunca havia visto antes, e conversava
com um desconhecido, que pelas suas vestes brancas, me parecia ser um médico. Ele examinava meu seio direito e dizia:
- Não se preocupe vai correr tudo bem, e você vai ficar curada! Curada! Curada de que eu não tenho nada, falei.
A partir daquele momento, desesperadamente tentava sair
daquele lugar, voltar ao meu quarto, voltar para o meu corpo. Quando consegui fiquei muito assustada e pensei:
- Nunca mais brinco de imaginação!!!!
Texto retirado do livro IMAGINAÇÕES QUE SALVAM - Lay Faggundes