CRÔNICA – Um olhar sobre o Brasil – 31.01.2017
 

CRÔNICA – Um olhar sobre o Brasil - 31.01.2017
 
 
Havia prometido a mim mesmo, logo após o impedimento da Doutora Dilma Rousseff, não mais escrever a respeito de matéria política e nem mesmo sobre as da área econômico-financeira, porquanto a meu entender uma está muito ligada à outra.
 
Entretanto, devo explicações a meus leitores, que não são muitos, até por que não tenho o poder de fazer opiniões nesta minha modesta página, onde pago para publicar.
 
Naquela fase inicial do processo de “impeachment”, e não tenho receio de dizer a verdade, ora eu achava que a presidente seria afastada, outras vezes pensava o contrário, isso em face de dúvidas que surgiam na medida em que as coisas andavam e que novas versões eram apresentadas, quer pela defesa, seja pela acusação. Aliás, uma providência que me pareceu estranha foi a defesa apresentar pessoas ligadas ao governo como testemunhas, em sua maioria, porque ninguém de bom senso vai supor que um funcionário de confiança falará mal de seu patrão; isso torna a prova testemunhal um tanto viciada e sem muita credibilidade.
 
Por vezes, cheguei a imaginar que se o dinheiro da campanha da chapa Dilma/Temer foi conseguido de maneira ilícita, uma medida de justiça seria o seu cancelamento, partindo-se, então, para nova eleição, uma vez que em havendo benefícios estes alcançaram os dois candidatos. É claro que os juros acompanham o capital. Se essa fosse a medida tomada pelo Superior Tribunal Eleitoral, que até hoje nada decidiu, o país talvez não estivesse na situação vexatória em que se encontra, notadamente com essa quantidade milionária de desempregados, em plena recessão. Poderíamos até ter participado duma eleição entre Aécio Neves (PMDB-MG) versus Lula (PT-SP), numa disputa verdadeiramente sensacional. Tenho dúvidas sobre quem seria eleito.

Cheguei a admitir, também, a assunção do Doutor Michel Temer (PMDB-SP), mas com o compromisso de convocar eleições diretas dentro de noventa dias, hipótese que o tornaria um político mais respeitado e até passível de ser candidato em eleições futuras, mas a Constituição é bastante clara nessas hipóteses de impedimento: Assume o vice-presidente, salvo de já houvesse decorrido mais da metade do mandato presidencial em foco.
 
Viajei na corrente de que bastaria a saída da Dilma para que o país pudesse retomar seu crescimento, mesmo aos poucos, apesar da verdadeira desarrumação em que se achavam todos os setores da vida nacional, tanto produtivos como de serviços, merecendo críticas contundentes a educação, a saúde, o transporte e a segurança pública, isso no poder executivo, todavia as coisas também não andavam muito bem nem no legislativo nem no judiciário.
 
Para não me alongar muito, pois não é essa a minha intenção, nada vi até agora que possa devolver os trabalhadores às fábricas e aos demais postos de trabalho. Merece crédito a medida que limitou os gastos, naquela máxima de que não se pode gastar acima do que se recebe. Mas a reforma da previdência, por seu turno, embora nos pareça inadiável, não poderá ser assim tão repentina, sem discussão séria e honesta, porque certamente vai mexer com direitos adquiridos, prática que é plenamente proibida pela nossa Carta Magna de 1988, a chamada Constituição Cidadã pelo memorável Doutor Ulisses Guimarães, que repousa nos fundos dos mares da cidade maravilhosa.
 
Ora, se quando fiz meu contrato de trabalho as normas diziam que com trinta anos de serviços teria direito à aposentadoria, não é possível que agora, por conta da péssima administração dada ao dinheiro público, assim como pelo aumento da longevidade das pessoas, que até parece dádiva do governo, venham com essa de elevar esse tempo de contribuição, de sorte a querer que o trabalhador goze desse direito quase à beira da morte, quando se sabe que a aposentadoria é um reconhecimento previsto para que se possa gozar um pouco dos ferrenhos tempos de trabalho nas diversas atividades. Salvo pelo poder de barganha que o governo mantém sobre os parlamentares, não há as mínimas condições de aprovação dessa lei. Também não acho justo que aposentados continuem a recolher contribuições previdenciárias, seja na esfera pública ou particular.

Tive oportunidade de sugerir a membros do governo que aí está – sou afoito e escrevo para parlamentares ou qualquer autoridade – que fossem de imediato, restabelecidas as construções civis, setor da indústria que mais emprega mão de obra não qualificada e que movimenta toda a cadeia produtiva de bens e acessórios que são utilizados na construção de uma casa, por exemplo: areia, cimento, telha, tijolos, concreto, pregos, cal, tinta e colas, fechaduras, ferrolhos, parafusos, madeira (caibros, portas, janelas, móveis, etc.), canos e conexões, fios e cabos elétricos, etc., etc., etc. E quando a indústria produz o comércio e as demais atividades, inclusive as diferentes manufaturas tendem a crescer, evidentemente, naquele ciclo produção/comercialização/arrecadação de impostos.
 
Com as mais expressivas figuras políticas denunciadas na operação Lava-jato, da Polícia Federal, inclusive ministros de estado e o próprio presidente da república, cuja apuração é impraticável arriscar uma data de finalização, reservo-me a dizer que o nosso governo, lamentavelmente, não tem a legitimidade que seria de desejar-se, em termos de democracia.
 
Quando vejo esse empurra-empurra do executivo com o judiciário, em torno da indicação do substituto do Doutor Teori Zavascky, falecido num acidente aéreo, do qual tenho minhas dúvidas, porquanto era ele o Relator de todos os processos da pertinente ação da referida Lava-jato, fico a imaginar quais os interesses que dominam essas mentes de nossos mandatários. O presidente Michel Temer (PMDB-SP) só indicará o respectivo substituto depois de saber quem será o novo relator, e parece que esse cidadão somente será indicado após se conhecer o novo ministro a ser nomeado. Aliás, diz-se que o Sérgio Moro foi indicado para a vaga que significa meio caminho andado para que em pizza terminem as demais investigações.
 
Fico por aqui.
 
Nota: A foto é da Ministra Cármem Lúcia, Presidente do STF.
Ansilgus
02/02/2017 18:22 - Miguel Toledo participou assim, muito grato:
 
Ansilgus, belíssima crônica e você é especialista nesse gênero, sua preocupação é a preocupação da maioria do povo brasileiro. O Brasil como foi encontrado é como uma roseira que está metade seca metade verde e sua revitalização é lenta e quase impossível. Ou como uma reforma de uma casa velha, meche dum lado e cai o outro lado. As obras do PAC que vai mudar de nome está para ser reiniciada e aí vai empregar muitos trabalhadores, A lei que vai modificar os juros do cartão de crédito acho muito bem vinda e os bancos estavam ganhando muito dinheiro em cima dos consumidores, com juros de mais de 400% ao ano. Acredito numa boa retomada do crescimento no segundo semestre deste ano. Parabéns e um abraço.
 
 
02/02/2017 14:49 - Tereza Freire comentou assim, grato:

Poeta, dessa vez, articulista; sua análise está perfeita; a situação do país continua caótica; o que comentam economistas é que pelo menos estancou-se a queda da economia; e que para 2018 teremos uma leve melhoria; não fui na corrente de aplausos do Temer; fui cautelosa e aguardo as providências, que ainda são muito lentas qdo precisamos de um choque; Continuo aqui pois dei enviei antes de terminar aguardemos para a melhoria prometida, das quais continuo desconfiando;entretanto, sua análise é perfeita; e não faça este tipo de promessa; continue comentando assim como poetizando; nos dois estilos vc escreve muito bem; e apreciamos mais uma crítica esclarecida.Abraço!


05/02/17 22:54 - Alfredo D Alencar comentou assim, grato:
 
Dileto compadre Ansilgus: Estudos respeitáveis demonstram que a
Previdência Social não está deficitária. Acontece que o governo
confunde a opinião pública ao adicionar, aos compromissos financeiros
a que fazem jus os aposentados, os valores correspondentes à
Assistência Social e despesas com a Saúde. Separadas essas despesas, a
conta fecha no azul para a Previdência. Leve-se em conta, ainda, que
integrantes das Forças Armadas recolhem meros 7,5% de seus vencimentos para garantir a remuneração após entrarem na Reserva. Existem acúmulos
de benefícios, outro problema a vencer. A solução justa e aceitável
consiste em estabelecer tempo de contribuição de 35 anos para todos os
trabalhadores dos setores privado e público, independente de sexo. A
norma passaria a vigorar a partir de sua aprovação pelo Congresso
Nacional, sem penalizar aqueles que já se encontram no exercício de
seus trabalhos e funções.
para garantir a remuneração após entrarem na Reserva. Existem acúmulos
de benefícios, outro problema a vencer. 
ansilgus
Enviado por ansilgus em 01/02/2017
Reeditado em 08/02/2017
Código do texto: T5899832
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