O HOMEM SERTANEJO

Acordar embalado com o cantar dos galos, tomar um café preto e bem forte, calçar um sapato de couro, pegar as ferramentas e partir para as tarefas próprias do homem sertanejo. Os Cuidados com a terra, com os animais, com as lavouras e com a cultura sertaneja dignificam e encorajam o homem mais forte do Brasil. São eles mesmos, os incansáveis homens sertanejos que tocam o progresso do sertão à custa de muito suor e sofrimento. Não desistem, continuam a peleja, apesar das várias adversidades, tanto os relacionados aos fenômenos naturais, quanto aos provocados pela ignorância dos habitantes de outras regiões.

Não é necessário um olhar profundo para constatar essa triste realidade que assola o bravo homem dos sertões. Uma rápida análise a olho nu para a Região Nordeste, principalmente os estados mais castigados pela seca é suficiente para entender a angústia de quem assiste sem nada poder fazer para evitar a perda de seus investimentos, mesmo que sejam poucos. A possibilidade de prosperar, de proporcionar à família o melhor, ver os filhos crescerem alegres, o rebanho engordando no pasto verde e a lavoura brotando expectativas, são sonhos que alimentam o viver dos guerreiros das paragens mais desoladoras do Brasil. Os dias, meses ou anos de estiagem, aliado ao preconceito dos demais brasileiros, ambas as maldades juntas, penetram na alma dos nossos heróis como uma navalha.

Hoje, fazendo minha caminhada de observação pela praça da pacata cidade dos sertões da Bahia, sem querer, claro, acabei ouvindo o diálogo entre dois senhores, dois valentes profissionais do ramo alimentício. Seu Antônio se dirigia ao outro dessa forma:

- Cumpadi, já nem sei o que fazer, não tenho mais condições de manter as rações pro meu gado. Já peguei dois empréstimos no banco, mas acabou tudo. Tou pensando em vender todo o rebanho e largar o pé daqui.

Nesse momento, disfarcei, peguei o celular, fingir está falando e continuei a ouvir a conversa dos dois senhores. O outro, chamado Paulo apenas ouvia, até que interrompeu: - é mermo seu Antonho, tá difícil para todos nós, mas não pode perder a esperança, lá no Sul também não tem emprego pra nós, nem os jovens conseguem mais, Deus há de ajudar nós. Eu mermo nem reclamo mais, no inverno passado perdi toda minha plantação de milho e amendoim, não agüentou o verão que veio logo depois das fracas chuvas.

Como eu não queria participar daquele diálogo sinistro, quase mortuário, em que os homens se lamentavam dos prejuízos que foram provocados pelas estiagens prolongadas, apertei o play e me distanciei o máximo daquela lamúria. Verdade seja dita, como também sou vítima desse maldoso processo de desigualdade na distribuição das águas vindas do céu, percebi que a emoção estava a ponto de inundar minha alma. Indignado, pensativo, ainda me encontro aqui buscando entender o motivo que impõe ao homem sertanejo tamanho sofrimento. Por que o sol nos ama tanto? Porque a imprensa nos trata com tanto desdém? Por que a chuva insiste em não nos visitar?

Aqui nos sertões de homens bravos não há rosa de Hiroshima, mas há muitas rotas alteradas, crianças telepáticas, muitas feridas abertas, mulheres sem voz. Nosso sertão pede socorro, estamos submetidos em uma crise hereditária, é preciso cuidado, estamos ficando sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada. Só nos restam a coragem, a persistência e a fé.

Manoel R
Enviado por Manoel R em 31/01/2017
Código do texto: T5898903
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