Cadela especial
Quando para minha casa ela chegou.
A idade era quarenta e cinco dias de vida.
Pequenininha, fofinha, branquinha.
Recebeu o nome de Luna, que significa lua.
Uma mancha marrom em um dos olhos que eram verdes.
Fora rejeitada numa ninhada de nove cachorrinhos.
Mestiçada com Pit Bull ninguém queria adotar.
Andava por toda a casa e no terreiro quase não ia.
Fazia o inverso, precisou aprender.
Com carinho fomos ensinando-a obedecer.
Ela saía de cabeça baixa, deitava lá fora e ficava olhando pra gente.
Um olhar terno e abanava o rabinho quando ouvia o nome dela.
De madrugada ela chorava lá fora querendo entrar e dormir dentro de casa.
Meu filho e eu íamos lá e conversávamos com ela e a cobríamos com sua cobertinha.
Até que ela aprendeu a dormir no “seu cantinho”.
Foi crescendo esperta, obediente, brincalhona.
Sem muito cuidado parasitas dominaram o corpo dela.
Sempre deitando na terra nós não sabíamos o mal que viria no futuro.
Nunca tínhamos tido uma cachorra tão boa e carinhosa.
Se chegasse a frente à porta da sala e alguém dissesse “não” ela ficava sentada observando.
Agora com mais de onze anos, idosa, ela ainda reage quando alguém da família não se sente bem. Fica deitada perto, faz-se presente.
Esteve doente, muito por causa dos parasitas (hoje não tem).
Ficamos surpresos quando a levamos pela segunda vez á clinica veterinária.
A primeira vez que foi não estava tão grave.
Ela se comportou bem, tranquila, deixou fazer todos os procedimentos necessários e ficou internada. Dias de tristeza, voltamos pra casa sem ela. Eu olhava para a casinha dela e não a via, muita emoção.
Na clínica não comia nada, somente quando alguém da família a visitava.
Prostrada, ela levantava, abanava o rabo e finalmente voltou para casa.
Paciência para cuidar e dar os remédios era o que podíamos oferecer a ela.
Ela ficou boa por dois meses, engordou e estava se alimentando bem.
Quando veio outro problema, que ficamos desenganados.
Meu filho a carregou nos braços para levar ao carro e á maca na clínica.
Vários exames e ela estava pior, mas quando nos via melhorava.
Internou de novo e novamente saiu.
Terceira vez foi uma inflamação que estava bem grave e nem todos tinham coragem de olhar aquele enorme ferimento, somente minha filha, eu e a veterinária.
Luna deixou que tirasse sangue para fazer um hemograma, foi medicada e voltou para casa.
Com cuidado, limpando a ferida e passando pomada fui cuidando dela.
Ela sempre quieta na hora da medicação, olhava pra mim e parecia agradecida.
Colocava a pata dianteira no meu braço.
Agora está bem e se alimentando normalmente, a ferida cicatrizou.
Nunca mordeu ninguém, late para dar sinal que tem alguém no portão.
Mas estando com alguém da família perto ela fica tranquila e aproxima da visita.
Algumas pessoas tem medo, mas ela é muito boa.
Sabemos que ela não viverá muito tempo, mas cuidamos enquanto a temos conosco.