SEMENTE CENTENÁRIA 7ª PARTE


HOMENAGEM A PROFESSORA MARIA GUERRA

Do nascer ao por do sol, do crepúsculo ao raiar da aurora, a mestra dona Maria Guerra marcou sua presença na historiaria do Engenho do Ribeiro. Com o seu dom e sua luz, preparando os alicerces e pilares sociais para gerir o distrito que acabara de nascer. cuja semente lhe foi confiada aos quinze de março de um mil novecentos e dezessete, pelo então presidente da câmara Municipal da Vila de Bom Despacho, DR Pedro de Paula Gontijo. Conforme consta na ata de sua instalação.
Sua missão não se limitou a ensinar apenas as letras, conforme o objetivo proposto pelas autoridades da época. Dona Maria foi muito além, mergulhou de corpo e alma na carência dos sertanejos, que aos poucos foram se agrupando nas redondezas da casa de escola do Bom jardim do Picão, e formando uma aldeia com características de vilarejo.
Trinta anos de sua incansável luta se passaram, até aos dezessete de março de um mil novecentos e quarenta e sete, data essa, que compareceu ao povoado um coronel que na sua adolescência, aos dezesseis anos, frequentou as aulas de uma escola, na fazenda Bom Jardim do Picão, La pelo ano de um mil novecentos e doze, escola essa que sobreviveu por apenas quatro meses e foi interrompida com a morte súbita de seu mestre escola.
Estava ele de volta, desta vez ostentando a patente de coronel, e na qualidade de prefeito Municipal de Bom Despacho, para homenageá-la acompanhado do vigário paroquial e do grande líder Guilhermino Rodrigues Filho. Seu ex-aluno a quem ela viu nascer, o educou nas letras, e o viu crescer. Cujo seu discurso a homenageando, eu tomei a liberdade de transcrevê-lo abaixo, sua fala retrata muito bem o que dona Maria o ensinou na escolinha rural que dirigiu:
Eximo Sr João Pedro de Araújo prefeito Municipal de Bom Despacho
Remo. Sr padre João Hefels vigário adjunto.
Senhoras e senhores.
Com essas palavras o Guilo como era conhecido deu inicio ao seu discurso, lendo a ata de instalação da escola, cujo conteúdo foi citado em uma página anterior a esta. Prosseguindo ele fez um relato do que se passaram na trajetória escolar durante os trinta ocupados por dona Maria Guerra, as demais professoras, incluindo a última, que assumiu O o cargo, um pouco antes daquela data, dona Geralda Caetano. Citando, ainda o numero de matriculas registrado a cada ano, o numero de turnos e o horário.
-- Eis ai senhoras e senhores em ligeiras palavras o que se passou entre as quatro paredes desta casa de escola no decorrer desses trinta anos. Na sua instalação dona Maria estava presente. Passados 12 anos ela consegue uma auxiliar , perde-a, mas dona Maria não esmorece, avante com o mesmo ideal. Da tudo quanto possui para estar sempre rodeada pelos pequenos analfabetos do Engenho. Quatro anos seguidos, ela lecionando para dois turnos, sem nunca pedir uma licença. Pensamos bem senhora e senhores, nós esses quase dois mil homens e mulheres que cruzamos a porta desta casa de escola, em busca da luz, ouvindo a palavra que me permitam dizer iluminada por Deus. Porque realmente existem muitos mestres, mas da fibra de dona Maria Guerra a historia poderá contar. Um povoado como este, que nasceu com tamanhas dificuldades em um mil novecentos e dezessete. E dona Maria só tinha um pensamento pela gente. Trabalhar sem observar se o prédio dispunha dos meios e as condições necessárias. Mas como são Vicente de Paula que foi o apóstolo da caridade ela eram os apóstolos desta instituição.
Quantas e quantas vezes ela doente, nos reuníamos na porta de sua casa e perguntávamos se poderíamos voltar as nossas casas e, ela com aquele olhar de mãe quando filho lhe pede alguma coisa, dizia que não que víssemos esperar aqui na porta da escola, vencendo as exigências da natureza, ela vinha para mais um dia de trabalho. E nós quantas vezes não compreendemos seu sacrifício. Quão ingrato fomos, ela tudo sacrificava por nós. Ela queria que no fim do ano o examinador encontrasse o fruto do seu trabalho.Embora a terra não lhe ajudasse.Passava uma turma que ela ensinava desde o ABC até o ultimo ponto do primário.Despedia, e voltava outros, ela, com a mesma atitude meiga e amorosa. Trinta anos de serviços a bem da comunidade e, qual a recompensa que recebeu de nós?Nenhuma parece! Não dona Maria! Nenhuma, não! Uma recompensa humilde, escondida à senhora terá eternamente:- dentro do coração de cada aluno grato, o seu nome e o seu semblante serão guardados com veneração.
Dona Maria Guerra ficou imortal na historia do engenho, e mesmo que esta história seja pequena, tornar-se-á grande e invejável.
A história do Brasil é bela e tradicional, vultos como Dom Pedro II, a princesa Izabel, e outros, aparecem para engrandecê-la. Na historia do Engenho, o nome de dona Maria Guerra que é para nós historia inteira, estará no titulo, no seu conteúdo, em todos os pontos, enobrecendo-a edificando-a. Queria eu, dona Maria, em vocabulário melhor, exprimir a alegria que inunda minha alma, e que é uma vaga copia da sua. Queria lhe dizer à gratidão que lhe consagro. Mas como sou incompetente para exprimir em palavras esta gratidão prometo-lhe que em minha meditação a terei no pensamento voltado pra seu lado. Pedirei sempre a Deus, que se merecer dele alguma recompensa, que transmita parte dela a senhora, porque toda minha alegria preciso compartilhar com a senhora, é meu deve!
Nestas singelas palavras que foram ditadas pelo meu coração agradecido quero exprimir bem alto, mais vez dona Maria, que se nenhuma recompensa seus alunos conseguiram lhe dar,, aunemos essa gratidão imortal a senhora terá. Reconhecemos o seu grande amor no combate ao analfabetismo. Se algum dia surgir algum melhoramento para nós, e este melhoramento estiver sobre nossa escolha, dona Maria, nesta hora um dever de obrigação falará bem alto em nossa consciência, nesta hora saberemos dar um pouco, por conta do muito, que de nós mereces receber.
Nunca esqueceremos e transmitiremos aos nossos sucessores esse exemplo, essa dedicação e amor ao trabalho, que a senhora nos dedicou.
Trinta anos de serviço, sabe Deus com que sacrifícios, faltavam-lhe muitas vezes o necessário para o desempenho do cargo, fora outra e teria desanimado. Mas, D. Maria inquebrantável recebeu sua cadeira e fez omáximo necessário para desempenhar nela sua missão. Nunca quis gozar licença, prova-nos isto as atas nos livros da escola lavradas pelos inspetores regionais. Por mais insolente que fosse o aluno nunca deixou de ensiná-lo. Até um surdo mudo ela conseguiu alfabetizar. Vejam senhoras e senhores, sem maneiras e objetos adequados ela conseguiu e muito bem realizar essa gloria. É preciso que fique patenteada eternamente esta dedicação que os nossos sucessores não alcançaram com os olhos, mas saberão para dar o necessário valor aquela que foi mestra e mãe.
Obs.:
“Dona Maria Guerra lecionou até 1950, encerrando sua carreira. Ano em que eu tive o privilegio de cursar meu 1ºano, entre os aluno, da ultima geração educada por ela.”






 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 30/01/2017
Reeditado em 30/01/2017
Código do texto: T5897150
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