O fator enganação
Vez em quando aparece um vídeo na internet mostrando um discurso do ex-presidente Lula em veementes elogios ao ex-governador Sérgio Cabral na presença, dentre outros, da Dilma, do Temer, Moreira Franco e mais alguns notáveis ou "papagaios de pirata".
Apesar de não podermos saber o que uma pessoa esteja pensando, Cabral parece mostrar-se incrédulo, pela maneira como olha o Lula, diante do que este fala, como se estivesse pensando "como é que esse cara pode estar dizendo tudo isso a meu respeito? É muito descaramento".
Por outro lado, só podemos acreditar que Lula estivesse se excedendo em todos aqueles elogios por não ter ideia do que o Cabral pudesse vir a ser. Como sabemos hoje. No entanto, se formos parafrasear o saudoso jornalista Ibrahim Sued, que costumava dizer que "em sociedade tudo se sabe", podemos, pelo menos, suspeitar que esse desconhecimento do Lula não seja muito provável. Ou confiável. Sendo assim, grande parte daqueles ouvintes estava sendo enganada. Ou iludida.
Desde o século 17, ou desde sempre, faz parte da cultura do meio dominante, composto por governantes, grandes proprietários, advogados, políticos, homens de negócios, empresários, militares de altas patentes, jornalistas credenciados junto a governantes, determinados intelectuais, etc., considerar as pessoas do povo como incapazes, pouco inteligentes e imbecis, nivelando-se "às crianças que não podem atravessar uma rua sem a supervisão de adultos". Além disso, considerada pela elite como uma "multidão canalha" (rascal multitude), a plebe, imbuída de suas inocentes ilusões de melhores condições de vida para os mais humildes, poderia influenciar ou ameaçar as pessoas de bem ou reais detentores do poder. Podendo, quem sabe, priva-los de privilégios, vantagens e facilidades que não podem ser para todos. Daí a necessidade de serem enganados os menos capazes para que possam mais facilmente desistir de suas pretensões.
Sob este aspecto, podem, de certo modo, ser enquadrados os ouvintes do inflamado discurso de Lula, sem economia de elogios a Sérgio Cabral, na necessidade de ser mantida ignara a plebe e, consequentemente, enganada, sobretudo diante do pronunciamento de um líder popular identificado, em princípio, com as pretensões das massas.
Maricá, 28/01/2017