Um abraço do tempo
É trágico ter de usar palavras comuns para exprimir o extraordinário.
É também constrangedor que algo tão sublime more em uma palavra apenas, ainda que eu não saiba exatamente que palavra nos daria.
Se eu escolhesse apenas uma palavra seria uma injustiça contra o todo que tem perambulado a minha mente e todos os vários enxertos de sentimentos que vejo brotar por aí, por mim, pelos meus órgãos, tecidos, células...
Do nada me distraio e quando retomo a consciência vejo um ramo qualquer florir em meu peito, uma folha qualquer sorrir no canto de meus lábios. Então eu me contesto: - Sentimento engana a gente.
Talvez eu devesse saber que o sentimento que engana também esclarece, traz à luz nossa verdadeira identidade e não a que desejamos aderir influenciados pelo meio, pela moral, pelo caos em nós.
Enquanto busco uma palavra tento conforto nos braços do tempo, e ora ele me abraça suave, ora me asfixia como uma camisa de força.
Tua boca é uma miragem, em meio ao deserto infértil, e me animou a jornada, mas os meus pés cansados poderão te alcançar e descobrir se és um oásis ou um engodo desses que os deuses nos apresentam para ensinar sobre fé?
Só o tempo me abraça, agora com demasiada e incômoda força.