CÃES E GATOS.

Morei boa parte da minha vida em apartamentos. E a vontade de ter bichinhos de estimação era grande. Mas meus pais sequer cogitavam a possibilidade de conviver com essas criaturinhas disputando o metro quadrado do lar doce lar. Quando saía às ruas, ficava observando com olhos entristecidos e inconformados, os pets passeando com seus donos a abanar rabinhos inquietos de felicidade. Mas não houve jeito, prevaleceu a vontade de meus pais; nada de cachorrinhos ou gatinhos...

Cresci acreditando que essa carência felina e/ou canina, jamais um dia, seria suprida. E essa previsão se confirmou até que me casei e mudei de endereço. Mudei-me para outro apartamento...E o desejo de criar, cuidar e amar, foi perfeitamente preenchido por lindos filhos. Foi quando, finalmente, pela primeira vez, nos mudamos para uma espaçosa casa. E para que meus filhos pudessem crescer livres do trauma do qual fui vítima por tantos anos, decidi presenteá-los com uma linda Cocker, afinal, toda família que se preza possui um cãozinho de estimação. Foi quando comecei a entender melhor o meu pai. Comecei a entender que quando se tem o primeiro cãozinho... não se para mais. É viciante. Tive vários, das mais variadas raças. E, hoje, estou com três; um labrador, e duas shitzus. Todos adoráveis.

A vida seguia tranquila seu curso, até que meu filho caçula foi presenteado com um charmoso gatinho de nome “Darwin”. Tão pequenino, gracioso e indefeso... Minha única e grande preocupação era descobrir um jeito de estabelecer uma amizade entre cães e gato. Pois, sempre ouvi dizer que cães e gatos eram inimigos mortais. Durante alguns meses, conseguimos manter uma espécie de barreira entre o gatinho e os cães. Tarefa nada fácil, pois os cães com seu faro apurado já sabiam que havia algo novo e estranho no ar.

A preocupação era constante. O gatinho foi crescendo e a curiosidade dos cães, também. Eu ficava imaginando como seria o primeiro encontro. Sim, mais cedo ou mais tarde, acabaria por acontecer. E, aconteceu. Conforme previra, o primeiro encontro deu-se no corredor. Minha mente trágica logo batizou o corredor de corredor da morte. Pobre gatinho. Dizem que os gatos possuem sete vidas. Assim sendo, Darwin é um gato de sorte, diante das duas shitzus, ficaria ainda com cinco vidas. Preparava-me para a qualquer momento, ouvir o derradeiro MIAU do pobre Darwin.

Mas para minha surpresa e das shitzus, o gatinho usou de toda sua esperteza e habilidade para mostrar que de frágil, não tinha nada. Aos poucos, esse gatinho foi conquistando a todos. Soube conquistar seu espaço e mostrar que estava ali, apenas como mais um ser cumprindo seu papel de simplesmente, existir. Segue sua jornada sem intenção de prejudicar ninguém. Precisa apenas, do seu espaço, e do respeito dos demais.

Hoje, o gatinho e os cães são grandes amigos. Até mesmo, o labrador, ele conseguiu conquistar. E eu fico me perguntando por que nós “humanos”, não seguimos o exemplo desses seres, ditos irracionais. Sigo, perguntando, por que não nos despimos de toda espécie de preconceito que corrói e contamina as relações humanas. Se seres de espécies diferentes conseguem um verdadeiro entrosamento, por que nós humanos não conseguimos nos despir dos rótulos, da ignorância, da insensatez, da intolerância? Temos muito que aprender com esses bichinhos. Eu sigo aprendendo. Eu sigo tentando e a cada dia, é uma nova lição. Obrigada, meus queridos companheiros, pelo aprendizado, pelo carinho e pelo amor e alegria de todos os dias.

Elenice Bastos.