Metamorfoses da vida
Assis Silva
Quando eu era menino gostava de pescar de bola. Parece estranho, mas era isso mesmo. A isca que usávamos para pegar os peixes era chamada assim. Pois era uma bolinha de que fazíamos de culambi (erva que intoxica peixes, usada pelos índios em pescarias). Primeiro tínhamos um trabalho de procurar os casulos das lagartas que ficavam presas nas árvores. Pegávamos as larvas, pisávamos o culambi e colocávamos dentro da larva, que ficava parecendo uma bolinha. Era uma alegria esse tipo de pescaria, porém dava pouco resultado, mas ninguém queria saber do resultado, queríamos mesmo era nos divertir.
As bolinhas eram jogadas no igarapé, os peixes comiam as bolinhas e depois ficavamm inconscientes, meio que bêbados, intoxicados. A partir daí era se atirar na água e buscar os peixes que se debatiam. Esse tipo de pescaria era típico da meninada, pois, os adultos não tinham paciência de ficar esperando, até horas, o resultado.
Essas coisas de menino, assim com a metamorfose da lagarta, são transformações, e quantas transformações passamos na vida. Antes de ser uma bela borboleta, ou uma mariposa, a lagarta fica vários dias dentro de seu casulo. Depois de adulto, me dei conta da maravilha que era aquela coisa. O ser humano tem um pouco de cada animal. É um animal que tem um pouco dos outros. Vive em sociedade como as abelhas, formigas, cupins. Tem bandos como as aves, e alguns outros animais. E como a borboleta ou a mariposa, passa por metamorfose.
Não nascemos prontos, nascemos prematuros. Precisando de tudo e de todos. Dizem os filósofos, nos tornamos pessoas no percurso da vida. Começamos a existir, assim como a lagarta em um “casulo” seguro, o útero de nossa mãe. E, diga-se de passagem, um dos melhores lugares que já estivemos. A temperatura regulada, sem preocupação, sendo alimentados sem esforço, etc. E vem a nossa primeira frustração, nascer.
Nascer é uma frustração muito grande, ainda bem que ninguém lembra. Tanto que é que uma das primeiras coisas que fazemos é abrir o bocão e chorar. Somos lançados em um mundo desconhecido, mal conseguimos abrir os olhos devido a luminosidade. Nosso conforto vai pelo ralo. Agora é preciso chorar se quisermos alimento.
Mas como tudo, também se supera o nascimento. Superar o nascimento é só o começo de tantas outras superações e transformações. As vezes estamos no fundo do poço existencial. E aí é preciso se superar, passar por uma metamorfose. Ou ainda, começamos a trilhar um caminho na vida e chega a um ponto, que nos damos conta que talvez fosse outro caminho que deveríamos ter pegado. E aí é preciso mudar de rota ou abrir um novo caminho.
A metamorfose humana é interior. Mudamos de pensamento, de estilo de vida, abandonamos velhos hábitos e adquirimos um novo. Aliás, se quisermos ser a cada dia melhor, temos que estar disposto a passar por metamorfoses. Não somos estáticos, estamos sempre em movimento e transformações. Esse é o ritmo da vida, ficar se remodelando. Morrer faz parte “vida”, morre a lagarta e começa a viver a borboleta.