Amor - a lição das coisas
E porque ele exigiria dela cada vez mais o sagrado essencial, busca inefável entre os escombros do cotidiano, o Amor era um contágio vivificante para ambos. E porque, também, entregavam-se ao formidável inconcluso das horas ausentes que, como uma ruptura súbita, pairava, nessa espécie de alegria inaceitável, a paixão em elemento de covardia agradável, a sutil máscara do vermelho exposto. Era, vez em quando, a supressão da vida na Vida.
Deram-se, pois, às urgências unânimes, velozes no encontro e na sedução de seus corpos, como vítimas indefesas do cio. Enfim, suspensos, tímidos à espreita, tinham a vida como um tapete persa, colorido por arabescos e outros néctares saborosos, e, uma vez que sabiam da delicadeza mais íntima que possuíam, o estio ingrato daqueles dias estanques não os pertencia mais. Rodopiando em balados bailados, serenos altivos, só o sonho em sépia senil, experimentavam, na absorção eclética do paraíso, a insegurança mesma da vida: a existência de um despir-se de carícias, a luxúria venturosa da predestinação.
O Amor: evento gratuito com música dentro. A melodia versátil de um beijo e sua explosão de pele. Ave esgarçada em céu sem fundo. Só a finura da seda.
Neste ínterim, porém, soprava, da realidade, o vento cretino das coisas práticas. E, como aqueles que saem feridos em batalha de guerra, retornavam, chagados por hóstias e rosas, à penumbra envolvente das lições das coisas, mais altos, vastos, irmanados em pureza de vida. Sós e a sós, o sol subia-se, como em sonhos silvestres, em súbito silêncio, sim, sim.