Brincadeira sem graça (ou Bullying)

Quem na escola nunca sofreu na infância ou adolescência algum tipo de Bullying? Bastava ter alguma característica diferente para ser o alvo.

Bem, quando eu era adolescente, estudante do ensino fundamental, cerca de 20 anos, época em que celular não existia e internet nem se falava, e que a palavra bullying nem era moda ou talvez nem existisse. Mas sua prática sim. O que para alguns não passava de uma brincadeira sem graça.

Fui criada no interior da Paraíba, indo morar na capital com os meus pais e dois irmãos, quando tinha 11 anos. Assim que nos alojamos, eles foram matricular-me em uma escola pública no mesmo bairro. Fiquei feliz, porque sabia que seria diferente. Eu era tão tímida, que conseguia rir da vergonha do momento.

No primeiro dia de aula, fiquei maravilhada com o tamanho da escola e das salas. Pois eu vinha de uma escola que havia apenas uma sala de aula, com chão de cimento. Bem precária. Então, aquilo tudo para mim, era um palacete. Aproximei-me da sala em que iria ficar, 5º ano. Entrei e sentei na última carteira da primeira fila. Todos estavam alojados, e não haviam mais lugares disponíveis.

Como sempre, o primeiro dia de aula é divertido, porque a professora cria dinâmicas para melhor entrosamento dos alunos. E então, ela foi passando de aluno para aluno perguntando tudo a nosso respeito. Quando chegou a minha vez ela perguntou:

- Olá, qual é o seu nome?

- Francisca. – Respondo, toda tímida. Os outros alunos começam a rir do meu nome.

- Silêncio! Não ligue para eles. Você veio de qual escola? - Ela continuou com mais perguntas.

- Bem “fessora”, vim do interior. Nós “mudemo onte. E painho colocou eu aqui pra estudá”. – Um grupinho de alunos que estavam perto de mim, começaram a me imitar e zombar do que falei.

Daí em diante eles passaram a me chamar de “Nós mudemo”. E acabei por ficar conhecida na escola por este nome. Fui vítima de gozações e humilhações. Não tinha ninguém para defender-me. E com mais ou menos seis meses, decidi não ir mais para a escola. Meus pais insistiram para que eu fosse. Eles não tinham muito estudo, talvez por isso, não insistiram muito. Enquanto na escola, alguém sentiu a minha falta.

Uma semana e nada da menina. Pensou a professora. Duas, três e o meu lugar na sala continuava vazio. Foi aí que ela (a professora) perguntou para a turma se alguém sabia de mim.. Todos disseram unânimes, “não”. Porém, no fim da aula, Alice (a única coleguinha) aproximou-se dela e disse que eu não estava indo para a escola por que todos ficavam me chamando de “Nós mudemo” e analfabeta. A partir daí, no dia seguinte, todos os alunos levaram o maior sermão da professora, conscientizando-os de que poderiam ter destruído a vida de uma coleguinha.

No mesmo dia, a professora Elena descobriu o meu endereço e decidiu ir até lá. Eu morava numa casa simples, com um pequeno jardim na frente. Ela chegou e bateu palmas. Como ninguém apareceu, chamou meu nome: - Francisca! Francisca! – Insistentemente.

Minha mãe vai atendê-la. Fiquei espiando do meu quarto. Passam uns minutos conversando. Até que Mainha me chama. Vou toda desconfiada. E vejo que é a professora Elena. Ela me dá um abraço bem apertado e quase chorando, pede-me perdão. Não entendi, e ela falou:

- Perdão por não ter dado a devida atenção a algo tão sério. Falhei como professora. Volte e te garanto que ninguém irá trata-la mais como antes. Todos foram punidos pela diretora. E você não sofrerá mais insultos. – Terminou toda emocionada.

Fiquei olhando, meio desconfiada. Por fim, olhei para minha mãe:

- Mãe, não quero voltar pra lá. – Argumentei.

- Você quem sabe filha. Deveria ter me dito. Vive com essa mania de ficar calada. - A mãe disse toda aborrecida.

- A senhora tem certeza? - Dirigi-me à professora ainda em dúvida.

- Dou minha palavra. – Respondeu e foi embora, na esperança de que tudo iria ficar bem.

Depois desse dia, demorei uma semana para tomar coragem e finalmente encarar a escola.

Através da atitude daquela professora, uma aluna foi resgatada de um problema social, que infelizmente, ainda ocorre com muita frequência hoje em dia.

Uma atitude pode fazer muita diferença!

Débora oriente