NO MEU CAMINHO
NO MEU CAMINHO
Estava andando pela minha rua, ontem. Quando percebi o tempo sob meus pés. As calçadas eram as mesmas. As casas e os postes.
Minhas pisadas lisas de chuva. Até isso parecia não ter mudado. São Paulo da garoa cresceu. São Paulo se fez inundação.
O bairro de Pinheiros, antes quieto agora se inunda e se inquieta.
Mas um som estranhíssimo e ao mesmo tempo familiar do antes, me fez parar. Olhar. Levantar os olhos para a copa de uma das árvores no meu caminho.
Sabe aquela árvore alta. Sabe aquela copa exuberante. Que se encontra com a outra. Do outro lado da rua?
Não sabia de onde vinha aquela algazarra toda. E eis que, depois de muito procurar. De meus olhos vasculharem por entre galhos e folhas. Sombras e claridades. Verdes escuros e claros. Lá estavam eles. Os pássaros.
Voejavam de um jeito pequeno e curto. E como piavam! Numa demonstração de proprietários por direito e fato.
Num olhar mais apurado. Vi. Ninhos e ninhos e ninhos…
Nem existem mais tantas árvores pelas ruas do centro de Sampa. Nem existem mais tantos habitantes alados assim. Mas eles teimam em se apoderar de suas casas verdes e altas.
Este instante ficou eternizado em mim.
Esta festa ainda possível. Palreia em mim a esperança de uma São Paulo viva. Ainda que prestes a sucumbir aos vários tons de cinza.
Mírian Cerqueira Leite