QUE LINGUAGEM VOCÊ FALA ?
    

     Flores? Eu as recebo todos os dias! De quem? Ah! Esse segredo! Devo contar? Mas se é segredo ...

     Elas, as flores povoam a minha vida. Chegam à minha porta. Enfeitam a tela do meu computador. Guarnecem vários espaços da minha casa. Avivam a telinha do meu celular. Perpetuam-se nas minhas telas. Convivo com elas. Nos vasos do apartamento. No jardim da casa. No agrado às pessoas benquistas. Nos momentos preciosos. Nos momentos de dúvidas. No regalo que não sabe se definir.

     São magníficas, muitas delas. Entretanto, sofisticadas ou singelas elas transmitem sentimentos de paz e serenidade. Ao observá-las coloridas, leves, oscilantes ao vento, a energia, a vitalidade e o entusiasmo pela vida brotam do nosso íntimo.

     O aroma suave que muitas exalam fortalece as emoções positivas, estimulando a conexão entre pessoas, o acolhimento, a empatia pelo ambiente e por quem o habita. Já reparou em um ambiente enfeitado com flores? O que sentiu? Aconchego, bem estar. Um local que parece convidar a ficar. Para usufruir o florido reinante.
     
     Não somente adornam, não somente perfumam. Tem linguagem própria. Que encanta, atordoa, alegra, cativa.  Porque a linguagem delas é infalível. Porque cada pétala é um pedacinho de carinho, consideração, afeto, amor, estima. Então imagina uma flor? Um ramalhete? Um punhado?  Sentimentos aflorados demonstrados. Para ver, sentir, acompanhar, fazer sorrir, enfeitar. Para mimar. Para acalmar a mente. Deixa-la vaguear por um campo infinito de cores. De flores. De plantas e de folhas que protegem cada botão, que aninham no meio verde, as flores, de tipos infinitos.

     Que trazem à tona sentimentos os mais variados.  Traduzidos pelas delicadas demonstrações da natureza, as flores. E eu posso falar com cada pessoa com outra linguagem que não a das palavras que uso agora. Posso demonstrar o que sinto, o que desejo para ela. Posso usar outra forma que não a escrita, a fala, o desenho, ou outa mais, se houver. Posso utilizar a linguagem das flores. Aquelas que envio nas mensagens, que pinto, que ofereço à outrem. Todas essas podem expressar meus pensamentos, meus pressentimentos, minha consciência.
     
     Seguro em minhas mãos um maço de amores perfeitos, cor de sangue, para que pense em mim. Mas, quero que seja com serenidade, de forma rara e misteriosa, por isso flores azuis, como as petúnias azuis . Quando desejo alegria e prosperidade, que sejam as amarelas, como girassóis que estão sempre em busca da luz solar. Se a saudade, aperta então busco as zinias. Se olho-o com interesse que seja com um ramalhete de junquilhos, talvez assim eu demonstre muito forte meu desejo? Sem resposta, a ansiedade só melhora com um raminho de passiflora, junto a lapela do meu casaco. Mas nunca apática com hortênsias, apesar de tê-las pintado.
     
     Entretanto, posso estar enamorada, então sempre usarei rosas vermelhas. E se quero conquistar outro alguém? As tulipas, que significam declaração de amor, me ajudarão? E se ele não me prestar atenção? Tenho que espalhar camélias por onde ele passar, estiver, olhar, pois meu destino está em suas mãos, e assim demonstrar virtude despretensiosa . Dará certo? A quantidade que for preciso de buganvilles, que evidenciam paixão. Ele entenderá?
     
     Na conversa com outrem que precisa de alento, ofertaria as minúsculas flores de camomila, que significam ânimo nas adversidades, e buscaria conversar sobre os aspectos positivos que envolvem a vida, como a justiça, com margaridas; a animação por simples ações, com gérberas; a manutenção do bom-humor com bicos-de-papagaio; a amizade duradoura que ainda é possível de se ter, com frésias; a constância nas ações, com jacintos azuis; a coragem que tantos tem e que nos ajudam pelos caminhos da vida, com próteas. Com trevo de quatro folhas desejaria um pouco de sorte, que todos almejam. Algumas campânulas indicariam que acredito na força da pessoa, apesar da aparência frágil da flor que se espalha por prados sem fim. E tantas outras que falariam a linguagem dos sentimentos, dos pensamentos, do carinho, do desejo, do querer. Sem letras, palavras, frases, sons, desenhos ou imagens.
     
     Essa linguagem delicada das flores nem todos entendem. Elogiam a beleza, mas não percebem que a escolha entre uma e outra leva a propósitos diferentes.  O que lhes encanta é a cor, as pétalas pequenas ou grandes que formam um conjunto gracioso. A não ser pelas rosas, as vermelhas que todos sabem significar amor, paixão, o que sabem das outras?

     Doces palavras para um homem? Flores majestosas oferecidas a um homem?  Muitos dizem não! Por que não, pergunto eu. Porque são oferendas femininas? Que bobagem, digo eu. Agrados sempre agradam. Carinhos sempre acariciam. Lembranças sempre abraçam. Por que não falar aos homens com flores? Escolheria uma que traduziria cada sentimento. Açucena, para lhes dizer da coragem que tem; álamo-negro, indicando audácia; begônia, cautela com que tratam o amor; dáfne, gosto de você como é, como ele é! . Para que houvesse um entendimento, uma conversa muda, simbolizada, enfeitada, personalizada, interpretada, apreciada.
     
     Para as mulheres? Tantas ... mas que sejam verdadeiras na sua linguagem. Que o significado transpareça o sentimento embelezado nas pétalas delicadas da pureza das margaridas, da beleza refinada das orquídeas, da amizade das fresias. Que o sentimento se traduza no requinte das gardênias, na beleza dos jacintos brancos, na nobre coragem dos edelvais, na paixão e no amor das rosas vermelhas, na muda adoração a uma única mulher que os crisântemos vermelhos afirmam, nos miosótis para que não me esqueça. Talvez, premiá-las com jasmins cujo aroma exótico e excitante, transformam a noite em encantamento.

     Mas também entregar-lhes amores-perfeitos para que assegurem o amor de quem desejam. E as papoulas? As escarlates significam extravagância fantástica. O amor não é sempre extravagante? Descartemos as brancas que significam sono. Com tantos sentimentos aflorados, ninguém ficará sonolento. E os olhares seguirão a sua deusa, assim como os altivos girassóis seguem seu deus, o sol. Tulipas, verdadeiras joias de cores magníficas e pétalas luxuosas. Para preencher vasos de cristal e ornar os locais em que estão as mulheres? Sem esquecer as violetas, que mesmo fugazes, oferecem beleza e perfumes delicados. Que elas, as mulheres, deslizem para os abraços de seus amados, como os nenúfares cuja linguagem reflete as etéreas ninfas que lhe originaram o nome.   

     Flores para o mundo, para todos. Para amenizar as batalhas, as brigas, as rixas, a discórdia, a raiva, o desamor. Para que os homens se espelhem na gratidão das campanulas, na verdade dos crisântemos, na dignidade das dálias, na honestidade das violetas-da-lua, na sensibilidade das centáureas, na festividade dos gerânios, no encantamento floral das madressilvas. Só essas? Todas elas! Juntas em um bouquet para uma oferta ao mundo. Pode ser para cada pessoa. Pode ser para todas. Mas que falem dos sentimentos bons, puros, sinceros, que vem da alma, que vem do coração. Que embalam. Que afagam. Que acalentam.

     Que todos recebam. As flores. Que todos captem. A linguagem das flores. E eu?  Continuo a recebê-las. Todos os dias. Continuam sendo um segredo ...
 
 
Tereza Freire

23 de janeiro de 2017
Crônica

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Tereza Freire
Enviado por Tereza Freire em 23/01/2017
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