Rio de Janeiro em 2017
Não consigo digerir os acontecimentos, basta acordar e ouvir no jornal da tv, crimes de montão, estado falido, dores individuais em foco.
Bate uma apatia, uma vontade de dormir e só acordar quando tudo isso passar, o sono vem, mas nada passa, apenas se acumulam os acontecimentos de dor.
Uma cantora com mais de sessenta anos, queimada viva, uma menina de dois anos, morta com um tiro no rosto, uma faculdade de excelência a beira do fechamento...
Chegamos na beira do mar e parece que toda aquela água salgada são as nossas lágrimas.
RIO DE JANEIRO, quando tudo isso terá fim?
Quando a Baía de Guanabara se fará limpa? Quando teremos tatuí nas areias de Copa, de novo? Quando teremos os nossos cinemas e teatros funcionando como antes? Quando teremos as Noites Cariocas no Pão de Açúcar? O Nosso Amado Canecão? Quando todos os plásticos serão biodegradáveis para não poluir?
Parece que essa guerra faz parte do rotina da cidade, guerra essa que só tem perdedores, gente burra que estraga a felicidade de uma cidade em nome de um dinheiro, que só compra futilidades e dor.
As vezes olho nos olhos daqueles jovens ladrões, e vejo um vazio de amor, uma dor infinita, um lado meu quer socar-lhe a cara um outro quer por no colo e acarinhar, meninos sem mãe, sem pai, sem escola, sem comida, sem amor, como esperar que esses seres sejam algo melhor do que são?
O mesmo sinto com relação a esses políticos que precisam de tanto dinheiro, não sei pra quê um ser humano precisa de tanto, como podem ver seus semelhantes morrendo a míngua, uma cidade a ruir e não sentir remorsos? Vejo um ex governador preso, sinto uma infinita pena daquele homem, será que essas pessoas em algum momento da vida não param diante do espelho e se olham lá dentro e a dor não lhes invade?
Nesse momento nem sei o quê podemos fazer para tentar reverter tamanha tragédia.
Abraçar a Universidade, comprar todas as bugigangas vendidas para ajudar, cantar e orar muito, trabalhar com mais amor ainda, ouvir a dor da senhora desorientada reclamando do vendedor que nem a olhou, mas que a mocinha sim, ao ver seu rosto enrugado, imagino sua solidão numa casa vazia, ela só queria um atendimento com atenção, carinho e respeito, mas aquele vendedor que é explorado, que trabalha não sei quantas horas por dia para não ganhar o suficiente para se sustentar, ele olha para aquela senhora e vê uma velha que mora melhor que ele, que come melhor que ele, que é feia ele a ignora e tudo que ela precisava naquele momento era ser notada por ele e receber um sorriso, isso a faria feliz, pobre senhora! Pobre vendedor!
As vezes me sinto vivendo dentro do livro do Saramago, no Ensaio Sobre a Cegueira, onde todos ficam cegos e a vida vira um caus. A violência, os abusos, as matanças, a falta de tudo.
Estamos com o carnaval a vista, fico a me perguntar o quê essa gente tem para comemorar? Que alegria é essa? Cegos em desfiles infinitos para angariar mais dinheiro para quem já o tem, até quando essa pobre gente vai continuar agindo como cegos que segue a manada e fica alegre quando tem que ficar? Que bate panela quando tem que bater, que vai pra rua reivindicar sem nem saber o real motivo.
Rio de Janeiro cenário de um inferno tropical, cenário esse que já não é tão bonito como era antes, mas ainda belo, é mossa única esperança de luz para toda essa cegueira.
Dizem que Deus é brasileiro. MENTIRA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Se olharmos para outras culturas vemos que é possível viver em paz num lugar melhor, temos tantos exemplos, o Japão é um deles, a polícia não sabe o quê é dá um tiro, nas delegacias tem os acontecimentos expostos na porta: Um homicídio em um ano, alguns pequenos furtos, geralmente feitos por estrangeiros, e mais nada, não imagino o quê faz com que as coisas fluam desse jeito mas nossos governantes deveriam estagiar por lá, mas qual!? Isso não interessa por aqui, leis pesadas e rigorosas, para TODOS, investimento e valorização da EDUCAÇÃO, tudo que é negligenciado por aqui.
Vamos sobrevivendo, esquivando dos tiros, das violências, dos abusos, vamos adoecendo e morrendo lentamente em um cenário que também luta para se manter belo.
Pobre Rio de Janeiro! Pobre de nós!
Que Deus seja lá o quê for, tenha vontade de modificar tudo isso por aqui. Seja lá como for.