O PLANO "A" DA BORBOLETA AMARELA
Hoje de tarde levei minha mãe ao dentista e uma borboletinha amarela nos acompanhou, por boa parte do caminho, como um papelzinho de seda amarela solto ao vento. Enquanto isso, Dona Andrelina e eu discutíamos sobre ser “bocó” ou “vacilão”.
— Mãe, “bocó” não se usa há mais de cinquenta anos!
— Então como é que se fala agora?
— “Vacilão”, mãe, agora é “vacilão”!
— Credo! Prefiro “bocó”!
E a borboletinha amarela ficava para trás, depois passava adiante, ia ali xeretar sei lá o quê e voltava. Sem vacilar, a danadinha nos acompanhava, mostrando que sabia aonde ia.
Acho que não posso dizer o mesmo da nossa conversa filosófica sobre as espertezas ou “vacilos” dos terráqueos. Nem me lembro como terminou ou se terminou.
Lembro-me apenas de ouvir minha mãe falando das uvas que compraria no caminho de volta na quitanda do Léo e também de ter procurado a borboletinha enquanto olhava um livro do Nicholas Sparks na vitrine do sebo do Barba.
Não encontrei a borboletinha amarela, mas encontrei um caminhão de lembranças de planos A abortados, com ou sem o meu consentimento, e sem os devidos planos B.
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