CRÔNICA – Plano de aposentadoria voluntária no Banco do Brasil – 23.01.2017
 

CRÔNICA – Plano de aposentadoria voluntária no Banco do Brasil – 23.01.2017
 
Todas as vezes que o BB lança esses planos mirabolantes, quer de aposentadoria ou de demissão voluntária chego a ter calafrios, que simbolizam o sofrimento de quem trabalhou trinta anos na instituição, exercendo os mais elevados cargos de confiança por este Brasil afora.
 
Essa história de que eles buscam com a medida tornar um banco mais competitivo, mais saudável e mais forte de capital e reservas é mera conversa pra bois dormirem. O que está por trás desse crime nada mais é do que “a privatização” dessa centenária instituição. Já no tempo em que eu prestava serviços no BB, havia por parte da rede privada uma fome danada para tomar os serviços próprios de Banco Central que lhe competia executar, até mesmo em face de ser o caixa do tesouro, ser o responsável pelo meio circulante, além do grande filé que representa o monopólio das operações de compensação de cheques e outros papéis, serviços que lhe são confiados em face da quantidade de agências espalhadas por todo o país, além, é claro, da confiança que a população deposita nessa primorosa casa de crédito.
 
O interesse real é oferecer lucratividade elevada, a exemplo do que ocorre com o Banco Bradesco e o Itaú. Desejam mesmo é elevar substancialmente os seus lucros, em detrimento tanto do seu pessoal como das comunidades pobres deste país, que têm no BB o suporte no pagamento de aposentadorias, assim como a finalidade de promover financiamentos para as atividades produtivas. Isso não é novidade, até mesmo em face de o poderoso ministro da Fazenda, que foi banqueiro por muitos anos (e penso que ainda o é), porque a rentabilidade é tão favorável que fica difícil uma pessoa abrir mão dessa atividade. Uma vez banqueiro sempre banqueiro!

Então surge uma pergunta que não quer calar: Então o BB, por ser do governo, não é para dar lucro? Claro que terá de dar resiltado superavitário, até por que se trata de uma empresa de economia mista, com acionistas normais como uma firma qualquer. Ou seja, parte do capital é do governo e parte é dos particulares, que investem nas bolsas de valores. Agora querer se nivelar com bancos privados é querer demais, porquanto estes não têm as mesmas regalias do BB, que é beneficiário de uma gama enorme de serviços de interesse público, que lhe rende muito dinheiro. E essa gama de vantagens já foi muito maior, eis que a ganância da rede privada, que não tem interesse algum em fomentar a agricultura dos pequenos produtores, por exemplo, vão lhe tomando aos poucos atividades lucrativas.
 
Uma coisa que mexe comigo e me deixa intranquilo quando ao recebimento de minha aposentadoria, é ver praticamente todos os dias o noticiário da imprensa falada, escrita e televisada, dando conta do “estouro” de agências do interior e da capital, muitas das vezes vizinhas ao posto da polícia, esta que nunca faz nada, os assaltantes atacam, pegam o dinheiro, utilizam explosivos e dão no pé. Geralmente os que carregam o dinheiro roubado nunca são presos; só mesmo os mais fracos, que não conseguem fugir, são detidos, isso sem perder de vista que não divulgam os valores levados pelos bandidos, se há cobertura de seguros e outros detalhes importantes para a clientela.
 
Quase sempre, e isso é bastante claro, quem paga as despesas são os clientes, ora através do aumento das tarifas sobre serviços, que andam caras demais, assim como na elevação dos juros e acessórios devidos pelos clientes de empréstimos, cheque-ouro, etc. O pior ainda é que quando uma filial é assaltada não há sequer declarações de quando será reaberta; a clientela fica num mato sem cachorro, tem de se deslocar a outros municípios, caso esse também já não haja sido explodido pelos meliantes. Recentemente, recebi um extrato de conta em que fixaram o valor do débito a ser feito só e exclusivamente pela concessão do cartão ouro, cuja renovação está próxima, mas me deram de presente quatro parcelas de R$ 72,00 reais. Como ex-funcionário, reclamei de imediato e disse que não concordava; mudaria de agência ou até mesmo de banco. O gerente que escolheram pra meus negócios é muito bom e mandou estornar esses débitos absurdos. Sou cliente do banco há mais de quarenta anos, e uma das coisas mais difíceis é conseguir falar com o gerente que, normalmente, está em reunião, mas isso não é novidade alguma.
 
Mas essas aposentadorias ou demissões voluntárias (?) deixam funcionários novos e antigos em polvorosa. E aquele sonho que todos mantinham de um emprego seguro, bem remunerado e com estabilidade vai de água abaixo. Milhares e milhares de jovens estavam ansiosos para fazer o concurso da Casa após a mudança de governo, alguns pagando cursinhos, outros estudando sozinhos com a boa intenção de tanto servir à pátria como angariar uma fonte segura na nova colocação. Quando isso ocorre, lembro-me de exatamente do dia em que fiz o meu concurso. Foi uma verdadeira maratona, principalmente porque me desloquei do Recife para Limoeiro (PE), ressalvando que apenas mantinha no bolso o dinheiro das passagens, ida e volta. Penso que já falei disso aqui, meu pai era muito pobre e não pôde me ajudar com quantia superior. Não tive direito a lanche, nem jantar e nem almoço, mas o nordestino é um forte. Tive a sorte de conhecer uma distinta senhora, dona de uma sorveteria, que me vendo em maus lençóis me convidou para dormir no terraço de sua casa, que aceitei de pronto, sem pestanejar.
 
A meu pensar, os nossos parlamentares não deveriam concordar com essas medidas antidemocráticas, que ferem até mesmo o direito de ir e vir das pessoas. Tem mais uma coisa, caso você tenha interesse e pergunte a alguns funcionários antigos eles vão lhe dizer que o BB não está forçando ninguém a sair do emprego ou se aposentar, certamente com medo da repercussão negativa que isso ensejaria diante da comunidade. O funcionário é consultado sobre se aceita o bendito plano, num procedimento normal (?), todavia se ele não aceitar certamente irão lhe fazer uma proposta mirabolante, qual seja a de ser transferido para onde o diabo fez a curva, digamos, do Recife para Bacabal no Maranhão. Será que ele toparia?! O que diz o leitor?
 
 
Ansilgus
Crédito da foto: Internet/GOOGLE
 
26/01/17 21:59 - Walmor Zimerman, fez suas ponderações abaixo, muito grato:

Caro amigo e poeta Ansilgus. Sua crônica não deixa de ser um "grito de
lamento", pois você dedicou sua vida ao BB. Na realidade há uma
corrente que defende o neoliberalismo, em que o Estado dever
privatizar tudo... Penso que nem tanto ao mar nem tanto a terra;
quando houve a crise econômica em 2008, dos títulos do mercado
imobiliário americano, quem socorreu as empresas automobilistas
americanas para não fecharem suas portas? O Estado veio em socorro;
ele deve ser o elemento moderador da economia. Aqui em nosso estado,
questão do pedágio é um escândalo; uma simples ida ao nosso litoral,
as taxas do pedágio passam de 18 reais para e mais 18 para voltar...
"Entregaram", duas pistas duplas, prontas, cujo o trabalho da
concessionária é somente pintar as faixas, e um eventual reparo, no
mais é faturar e faturar... Um abraço amigo, nosso e da Meg.
 
26/01/17 16:54 - Gilberto Oliveira, fez seu abalizado comentário, grato:

Crônica escrita com toda vossa consciência numa racionalidade ímpar.
Todavia, nesse tempo nebuloso da crônica brasileira sempre
encontraremos a legião dos nefelibatas de plantão. Cá acrescento
alguns cuidados que devemos ter com os mais exaltados: É preciso ter
com os "irracionais" um diálogo franco; com os "racionais" faças
objeções; com os "cafajestes" que se dizem "donos" da
verdade-absoluta, queiras todas as proteções divinas, estes são os
escárnios da humanidade. Boa tarde... pax e lux caro amigo
Ansilgus!!!
ansilgus
Enviado por ansilgus em 23/01/2017
Reeditado em 26/01/2017
Código do texto: T5890697
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