ARRUMANDO A CASA
Resolvi abrir a porta, uma certa curiosidade em saber como estava!
Muito tempo não entrava lá, talvez por medo!
Deixei trancada há muito tempo!
Mas depois percebi que o que é nosso,necessita de zelo, pois cuidado nunca é demais!
O abandono por conta do abandono!
Quando entrei percebi o quanto tinha que ajeitar!
Minha vontade era mudar tudo de lugar!
Para dar uma outra impressão!
Teria de limpar tudo primeiramente!
Não sabia por onde começaria, estando dentro, percebi que não conseguia ver o mundo lá fora!
Então comecei pelas vidraças!
Transparência!
Se não, como poderia entrar qualquer foco de luz!
E era o que eu mais precisava!
Depois passei a cuidar do chão!
Tinha de estar limpo onde eu pisava!
Comecei tirando às poeiras pelos cantos!
São as que não vemos, é as que mais incomodam!
Varrer pelo meio danifica o ar!
Sustentável poeira insistindo em flutuar!
Ficaria insuportável o respirar!
Me sofocaria!
Me sufoca!
A grande sala se destacava, tudo estava encoberto!
Como se fosse de alguma forma proteger as mobílias do tempo!
Estas, são como antigos sentimentos!
Quando passei para o quarto, fui no íntimo!
Doeu!
Quase desisti!
Por ainda ver!
A cama estreita!
Por conta das roupas de cama mofadas, a mostrar que tudo que vivera ali tinha desaparecido!
Apenas lembranças agora,das noites dormidas, sonhos que cheguei a ter um dia e que ainda povoam o mundo da esperança!
As fronhas, o lençol desbotado, não me impactaram tanto quanto ver os dois travesseiros lado a lado ainda amassados!
Indicava a ideia de companhia!
Já não existe mais!
E ainda sim sinto falta!
Engraçado, procurarmos alguma presença alheia na hora de dormir!
Para que?
Já que cada um vive seu sono!
Não sentimos qualquer presença até o amanhecer!
Desilusão!
A cozinha estava amarela, não era sua cor original,antes tinha um branco nas paredes azulejadas, e claras louças que me traziam paz!
Vi uma mesa montada!
Duplicidade!
Velhas recordações!
Por um momento,ficaram novas!
Dava para ver um filme!
Até quando acreditar que foi tudo real!
A casa ficou tão abandonada que nenhum fantasma habitava ali!
Saíram comigo!
Parecem gostar de me seguir,mesmo dentro da rejeição!
Pronto,tudo limpo outra vez!
Talvez eu volte, algum dia, volte a me encarar por dentro, depois que eu retirei tudo que me dói!
Continuarei arrumando a casa, minha mente é meu lar!
Tem de se conservar o íntimo, para que fique habitável,antes que caia tudo em ruínas,e sobre apenas o pó flutuante sufocando tudo!
Chega!