MASMORRAS DA ALMA

MASMORRAS DA ALMA

Jorge Linhaça

Muitas pessoas constroem, ao redor de si mesmas, grossas paredes, como a das masmorras dos castelos medievais. São o que poderíamos chamar de "as masmorras da alma".

Tais masmorras tem a função de impedir que o mundo penetre os seus aposentos.

Geralmente essas pessoas dizem viver o seu dia a dia, focadas apenas no presente e, por isso, negam as lembranças do seu passado, com medo de que as alegrias antigas ganhem vida, ou, negam-se a projetar um futuro que as arremesse para fora de suas paredes.

Embora a premissa inicial, viver o dia de hoje, seja uma coisa louvável, não percebem que essa fixação excessiva em um momento específico de sua história de vida, acaba por deteriorar todos os alicerces de uma experiência de vida, que , quando bem avaliada, pode ajudar a seguir um novo rumo ou retomar um caminho para o qual não estávamos preparados tempos atrás.

Talvez um dos erros que todos nós cometemos vez por outra, é o do medo de reviver o passado, de resgatar inclusive as coisas boas que aconteceram.

Uma das maneiras mais comuns de criar essas paredes de masmorra à nossa volta, é o enfocar sempre o que não foi bom em uma relação, seja ela de amizade , amor, profissional ou qualquer outra.

Quando focamos nossa mente apenas nas coisas negativas e negamos a nós mesmos o que houve bom, reforçamos as paredes que erguemos à nossa volta, talvez pela insegurança de assumir os riscos inerentes ao progresso ou retomada desses relacionamentos.

Criamos uma visão tão pessimista das coisas e até mesmo das pessoas , que não acreditamos que alguém possa penetrar o nosso mundo e nos trazer a felicidade por tanto tempo esperada.

Torna-mo-nos escravos de nosso medos, e ao fazê-lo abedecemos cegamente ao sentimento de inadequação que nos envolve. Afastamos de nós qualquer oportunidade de progresso na vida afetiva, pois nos acostumamos a pensar sempre no pior e nos julgamos merecedores do que possa nos acontecer de pior.

Olhamos o mundo lá fora pelas frestas de uma janela que julgamos intransponível, e, ainda que arremessem uma corda para que desçamos da masmorra, o medo de despencarmos durante a descida nos impede de tentarmos a liberdade dos nossos medos. Como derribar as paredes da masmorra? Cada qual deve ter a sua própria resposta, mas por certo todas elas passam pela etapa de permitir-se ouvir o que os outros tenham a dizer. Enquanto fincarmos o pé, acreditando que estamos cobertos de razão para sermos esses eremitas ou exilados voluntários da vida, e que ninguém tem a capacidade de nos compreender e nos aconselhar continuaremos a reforçar as paredes com a argamassa do egoísmo disfarço de altruísmo, e a pinta-las com o escuro betume de nossos medos