SER HUMANO: irracional
O ser humano é imbuído de todas as capacidades de se fazer diferente de outros seres no que se refere à convivência social. Tal afirmativa pode ofender meu querido leitor, por se referir a uma tese de conhecimento e prática universais. Hoje, não sei por qual motivo, despertei pensando nos comportamentos das pessoas. Na verdade, não acordei no momento que gostaria, mas fui despertado as cinco da matina, o que é uma tragédia para um professor em pleno gozo de suas merecidíssimas férias. O alarme, crucial nos demais 11 meses, hoje se tornou imprestável, graças à covardia inocente de dois cães do meu vizinho. Logo eles, os melhores amigos do homem, sendo acusados de tal façanha. Tudo bem para eles, não os insultei, o mesmo não posso afirmar em relação aos seus proprietários.
Então, já que me acordaram, aqui estou eu, falando justamente dos comportamentos das pessoas. Chego velozmente à conclusão de que os humanos não foram concebidos para viverem em grupo. Cada um de nós, com raras exceções, age como se fôssemos únicos, como se o próximo não existisse. Seguindo essa linha de raciocínio, vem à mente um problema que virou caso de polícia aqui em minha pacata cidade. Trata-se de um morador que insiste em não evoluir, anseia em seu corpo o sangue do homem da caverna, nada contra o homem da caverna, ele era evoluído para aquele tempo. O nosso homem da caverna mora em uma rua que foi pavimentada. Porém, seu esgoto corre a céu aberto, deixando um cheiro horrível e incomodando todos os demais moradores.
Não sei o que aconteceu, o esgoto continua a correr tranquilamente pelas calçadas das outras casas da rua.
Quando paro para analisar os integrantes da minha tribo, rememoro o escritor Euclides da Cunha, autor da Obra “Os Sertões”- narra a saga do Antônio Conselheiro. Nesse livro, o autor disse que todos nós estamos condenados à civilização. Diz ainda que ou nós progredimos ou desaparecemos da face do planeta. A afirmativa é segura, argumentou esse notável sábio. São dizeres espetaculares, que deviriam chegar ao conhecimento de todos nós, mortais humanos. Por outro lado, recordo-me nesse exato momento de uma reportagem que assistir na TV que apresentava os números de um estudo sobre leitura no Brasil. Foi constatado que em 2015 apenas 56% da população brasileira tinha o hábito da leitura. Estou ficando seriamente preocupado com meus semelhantes. A educação, a ética, o respeito, o aprimoramento da raça, não são envolvidos nos projetos de vida dos homens e mulheres. Na pós modernidade em que vivemos, essas questões são conceituadas como absoletas. O carro chefe agora é a aparência, independentemente das batalhas travadas nos bastidores. O celular último lançamento, corpo em forma, roupas de grife, calçados de marcas famosas, comportamentos desumano, tudo para viver o mundo das celebridades.
Falando em aparência, o Brasil lidera ranking de cirurgias plásticas no mundo. Estamos cuidando da embalagem, ela é mais valiosa, é o que podemos ver. Não nos comportamos como verdadeiros humanos porque já nos tiraram a capacidade de pensarmos e agirmos por nós mesmos, uma entidade superior nos controla.
Cansado de pensar nos homens, liguei o notebook e mergulhei no mundo virtual, quando me deparei com uma publicação na pagina de uma amiga. Não era qualquer postagem, era uma já conhecida por mim, mas que se encaixava perfeitamente nessa temática. Tratava-se de um trecho, em que o ganhador do Prêmio Nobel de 1989, o Monge Tibetano Dalai Lama responde a uma pergunta sobre o que mais lhe surpreendia na Humanidade. Ele respondeu que eram justamente os homens, porque eles perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem demasiadamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o agora nem o amanhã. E vivem como se nunca fossem morrer… … e morrem como se nunca tivessem vivido.”
Após reler esse recorte, pensei baixinho: - apesar do brilho desse pensamento, pouco importa amigo Dalai, são reflexões profundas para uma sociedade que busca evoluir. De repente, os latidos dos cães do meu vizinho me trouxeram à realidade, conferir o horário, eram já nove horas. Dessa vez não me incomodei com a manifestação dos pobres animais, afinal, a culpa não era deles, são simples animais “irracionais”. Continuei a vigiar a vida alheia, quando me deparei com uma reportagem sobre mais um atentado terrorista que deixou dezenas de mortos. Minha angústia foi total, senti saudade dos latidos daqueles inofensivos cães.