Lembro-me fartamente do que fora prometido pelos defensores da ex-presidente Dilma Rousseff, durante o seu processo de impedimento, no congresso nacional e em aparições diversas. Simplesmente que não deixariam o Temer governar, que fariam todo o possível e o impossível para que o exercício do poder não fosse levado a contento. Isso, a meu pensar, soava como uma espécie de conclamação às forças divergentes e aos militantes no sentido de boicotar de todas as maneiras o vice-presidente que acabara de assumir, conforme previsto na Constituição Federal.
 
Se foi justo ou sem motivo o impeachment não me cabe julgar, mas a situação do país era de absoluto vexame, e ainda o é, especialmente pelo que se vê e ouve na mídia diariamente, com greves as mais diversas, até mesmo da polícia; de agentes penitenciários; de revolta de presos com mortes em vários presídios por este país afora; invasões e ocupações de escolas por estudantes; ministros envolvidos em esquema de propinas de empreiteiras; parlamentares aprovando repatriação de dinheiro enviado criminosamente para o exterior, tornando assim lícitas as transações; protestos levados a efeito pelo país afora, alguns até com reivindicações sem sentido e/ou injustas, isso sem perder de vista o desempenho do MSTST, cuja liderança está parecida com aquela do líder Che Guevara, que Deus ou o diabo o tenha, etc.
 
A situação está de certa forma tão insustentável que a Ministra Presidente do Supremo Tribunal Federal tem feito incursões a meu ver indevidas, nessa área de execuções das leis penais, até por que existe um Ministro da Justiça, um da Defesa, vários secretários de segurança e vários comandantes das polícias civil e militar, além de toda uma gama de juízes e promotores por este Brasil afora. Ao que se sabe, público e notório, o STF não teria nem condições de julgar processos criminais nas quantidades que aumentam a cada dia, e além do mais ele foi criado para decidir sobre problemas constitucionais. Mesmo que quisesse, por boa vontade dos ministros, não teria meios materiais para se desincumbir de tais tarefas.
 
O que se pretende, na realidade, é soltar o máximo possível de detentos, a fim de que possam responder pelos crimes cometidos em regime brando, ou seja, em casa, quem sabe monitorados com aquelas tornozeleiras eletrônicas, que a meu entender não estão com nada, eis que não há efetivo suficiente para que se mantenha um correto acompanhamento desses. Ao que se sabe, existem mais de quatrocentos mil mandados de prisão a serem cumpridos, mas sem as mínimas condições, porquanto não há lugar para mais ninguém nos estabelecimentos prisionais brasileiros, alguns como verdadeiras masmorras. O fato de o sujeito estar preso não lhe tira o direito de um tratamento digno de pessoa humana.
 
Penso que se trata, atualmente, de um problema de segurança nacional, cabendo, portanto a intromissão das Forças Armadas para garantir a lei e a ordem e também o cumprimento da Carta Magna da República. Não para matar, ferir ou atingir essas pessoas que estão privadas da liberdade, mas para moralizar o ambiente, que está manchado de nódoas que somente o poder federal tem condições de limpá-lo com ousadia e voz de comando, até porque ninguém mais está obedecendo a pobres secretários de segurança pública. Ademais, há casos de corrupção de agentes públicos no exercício de suas funções. Deveria haver intervenção federal em estados que não tivessem capacidade de conduzir as prisões, tanto por ação, omissão, negligência ou imprudência.
 
A meu entender, e minha voz não faz opinião pública, e citando a rebelião de Roraima como exemplo, nota-se que sessenta por cento dos mortos (60 x 31 = 18) estavam recolhidos por motivo de drogas, compra/venda/uso, etc. Ora, enquanto países estão liberando praticamente o uso das substâncias proibidas, descriminalizando-o, o nosso país a cada dia procura aumentar as penas previstas para esses desvios. Ou seja, caminhamos em sentido contrário. Deixando de ser crime a maioria desses problemas em muito facilitaria a ação governamental nessa área. Até acho que deveria ter uma cota pessoal de consumo, dentro de limites aceitáveis. Também penso que o plantio da maconha deveria ser financiado pelo governo com a garantia de compra, a fim de transformá-la em medicamentos para a cura ou mitigação das dores causadas por certas doenças graves que assolam milhões de pessoas. Há hospitais no país que nem sequer tem uma aspirina para as dores dos internados.
 
Sem perder o fio da meada, e a propósito dos conspiradores, seria necessário que a máquina pública, quero dizer o poder judiciário, funcionasse de sorte a resolver de uma vez por todas essas delações premiadas que estão pendentes, condenando ou não os culpados, mesmo que não fossem para a cadeia, por falta de vagas, mas que cumprissem a prisão em regime domiciliar, todavia, em todos os casos proibindo os condenados a disputar eleições pelo período de oito anos, no mínimo, tempo suficiente para que tomem vergonha na cara e se corrijam para melhorar o exemplo que devem dar a seus filhos e netos.
 
A nossa justiça é lenta demais, os outros poderes também, e alguém precisa dar o pontapé inicial para moralizar essa situação calamitosa porque passa a nação brasileira. Eu não sei como admitir que um parlamentar possa trabalhar de terça a quinta e folgue os demais dias da semana com todas as despesas pagas pelo governo; o mesmo ocorre nos tribunais de diversas alçadas. Todavia, na folha de pagamento eles recebem o mês completo e sem desconto de um dia sequer. Pode ir pra frente um país dessa natureza?! Não, nunca, jamais!
 
Não publiquei esse texto por problemas de saúde pessoal. Todavia, agora com o falecimento do ministro Teori Zavascki, em acidente aéreo, que pode ter sido provocado por pessoas maldosas, eis que ele era o relator de todos os processos da Lava-Jato, estando prestes a aprovar todas as delações premiadas pendentes da medida. Caberá ao governo mandar apurar, de todas as formas, esse fragoroso desastre.
 
Fico por aqui. Meu abraço.

20/01/2017 10:28 - Miguel Toledo deu sua colaboração, grato:

Ansilgus, linda e qualificada crônica, expondo as entranhas do país falido e com poucos perspectivas de melhora. O país foi explorado e esculhambados demais pelo governo do Pt. Vai demorar mas ainda tem jeito. Parabéns e um abraço.

Para o texto: CRÔNICA – Boicote – 17.01.2017 (PRL) (T5887384)

22/01/2017 14:09 - Esther Lessa deu sua bela opinião, grato:

Meu querido escritor Ansilgus, você tem a capacidade de sintetizar com louvor a situação catastrófica em que se acha o Brasil. A roubalheira é tanta que sufoca as consciências de bem. Parabéns pelo seu lúcido escrito ! Deus o Abençoe! Grata pela visita. Abraço fraterno
Para o texto: CRÔNICA – Boicote – 17.01.2017 (PRL) (T5887384)

22/01/2017 12:31 - Big Ben nos deu o prazer de comentar, gratao:
Nada melhor do que uma "cachoeira de verdades" para lavar a alma! Uma verdadeira aula de cidadania! Bravíssimo, caro amigo! Um grande abraço e bom domingo!
Para o texto: CRÔNICA – Boicote – 17.01.2017 (PRL) (T5887384)