Saudades Das Cartas
Carta. Algo gostoso que sumiu do nosso dia a dia. Uma palavra praticamente extinta do nosso vocabulário.
Mesmo assim os Correios conseguem sobreviver entregando correspondências, entregas especiais, boletos, propaganda, eletro domésticos, etc. Os Correios está em ritmo de, 'Se Vira Nos Trinta'.
Haviam vários tipos de cartas. As vezes a carta era longa relatando um grande acontecimento ou parabenizando alguém por algo muito importante. Tinha carta que vinha acompanhada com cartão ou foto. Quem sabe, a carta vinha recheada com um poema de amor ou palavras falando de saudade. Uma vez ou outra chegava um cartão postal de um amigo que queria compartilhar sua viagem de férias ou à negócios. Eram poucos os privilegiados que faziam intercâmbio, mas alguns lembravam de mandar notícias resumidas num cartão postal bem bonito.
Levava alguns dias para chegar até o destinatário, as vezes semanas. Eu tinha um pen pal do Egito e suas cartas demoravam um mês inteirinho para chegar, mas valia a pena. Raramente uma carta sumia, mas acontecia sim, infelizmente.
Se alguém tivesse que fazer um comunicado urgente ou inusitado, e não tinha telefone em casa, não seria por meio de uma carta mas sim, via telegrama. Era rápido e eficiente além de ser muito chique para quem recebia.
O envelope revela muito sobre o remetente: a letra, o jeito de colocar a informação toda sobre o endereço no envelope, detalhes ...
O envelope amarelão, logo abaixo, trouxe um lindo cartão da Tia Noemita para comemorar o meu 41° aniversário. Amarelo que nem a cor do girassol. Ela sabia o quanto adoro essa flor!
A Tia Noemita era na verdade prima da minha Avó materna, mas era quase da mesma idade que a minha Mãe. Foi a Tia que me ensinou a ler e escrever em português quando eu tinha dezessete anos. Tínhamos (meus dois irmãos e eu) aulas sagradamente aos sábados (o dia todo!) e domingos (até a hora do almoço). Ela nunca dava mole, e confesso que custou a aprender tanta coisa em tão pouco tempo sobre essa língua tão complicada, mas linda de se falar e cantar.
Tia Noemita era psicóloga formada pela PUC - SP, mas trabalhou a vida toda no Banespa (Banco do Estado de São Paulo - Hoje Santander). Não conseguiu usar a psicologia com seus três meninos temporões. Dizia que psicologia em casa era um bom chinelo de couro. A Tia só foi praticar psicologia depois que se aposentou e se deu muitíssimo bem aconselhando jovens sobre vocação profissional.
Ela dominava a arte de escrever cartas e cartões para qualquer data comemorativa. As vezes eu recebia cartão que ela mesma bolava para comemorar alguma data importante só entre nós: Nosso Primeiro Encontro; Primeira Aula De Português; O Dia Que Fomos Para Ilha Bela, etc. Caprichava nos envelopes com um 'sticker' ou dois e um selo, mas nunca um selo qualquer. Ela ia até os Correios e escolhia a dedo.
Este é um selo comemorativo que destaca o Guga e seu Tri Campeonato de Roland Garros em 2001.
Ao invés de mandar só o selo, a Tia Noemita mandava ele inteirinho dentro do bloquinho, como os colecionadores sempre adquirem seus selos. Só mesmo a Tia!
Saudades desse tempo das cartas, cartões e cartões postais.
Saudades sempre da Tia Noemita.