Julgamento

A vizinha traiu o marido. O marido da amiga partiu com outra família. A filha dos compadres está muito solta. O filho dos compadres parece que está andando errado. Esses e outros comentários vêm quase sempre seguidos de comentários ainda piores, os condenatórios, e ainda como se insatisfeito estivesse, o povo ainda aplica alguma punição, seja com a exclusão do convívio ou olhares difamatórios em meio social. Mas tudo isso, julgamentos e comentários condenatórios são sempre palavras ao vento que um dia poderão retornar à sua casa, à sua família e, pior, a si mesmo.

Como é difícil educar os filhos! Mais difícil ainda é educar os adolescentes sem deixá-los com problemas psicológicos. E quem é o outro que não mora com o seu filho para dizer que você está errado quando você sabe que você faz o gênero que se esforça ao máximo para acompanhar o seu filho em seu desenvolvimento, para que ele não corra riscos desnecessários ou acumule estresses emocionais também desnecessários durante a adolescência. Pois então, o julgamento alheio não passa de palavras ao vento! Ao passo que julgam o seu filho, julgam a si próprio, pois enxergam-se refletidos no mundo, pena que da pior maneira. Mas o vento percorre o mundo e o mesmo vento que bateu à minha porta, também baterá à sua porta.

Mas a questão polêmica desde o sempre, depois da educação dos filhos, questão bíblica inclusive, é a traição conjugal. Atire a primeira pedra aquele que nunca pecou. Assim disse Cristo para livrar Madalena do apedrejamento, o mesmo que ainda ocorre no Oriente Médio nos dias de hoje. Quem é católico sabe que, durante o ritual da missa, o padre invoca o perdão pelas palavras e pensamentos, atos e omissões de seus fiéis.

Pensamentos! Quem ao menos uma vez na vida, ao ter se imaginado com outra pessoa,  ou ter imaginado uma situação qualquer em que se beneficiaria em razão do outro, já o traiu pelo pensamento! Para piorar a polêmica, levemos em consideração que nem sempre a traição conjugal é afetivo-sexual, ela pode muito bem ser financeira e até recair sobre a lealdade mínima que se espera do outro no momento de uma infâmia sofrida. Usar o cartão do outro, que seja por uma quantia ínfima, sem a autorização do outro, é também uma forma de traição. Omissão! Poderia ter defendido seu cônjuge das infâmias e não o fez! Atos: Nem sempre são sexuais. Às vezes, uma simples carona àquela que o homem sabe estar no papel de inimiga de sua esposa já é uma traição; ou também dar assunto para o suposto inimigo de seu marido em qualquer situação seria imperdoável! Também são atos de traição quando o cônjuge expõe o outro a situações vexatórias, pois lhe trai a confiança de uma presença segura. Ah, tantas coisas que são traições. Tem até cônjuge que sabota o outro dentro de alguma instituição, impedindo-o de alavancar sua carreira, tudo por vaidade, disputa e poder. Palavras e pensamentos, atos e omissões.

Agora, o que leva a traição? Seja ela de qual cunho for? Muitos dirão que nada justifica que tudo é apenas sem-vergonhice, falta de caráter etc. Mas a questão aqui é: O que você tem a ver com o que o vizinho fez? Não vou deixar um julgamento, odeio julgamentos! Até porque na vida, cada situação é uma totalmente diferente da outra, e é difícil pesar o que é mais grave. Só sei que cada um passa pelo que tem que passar para aprender as lições de seu carma. Sem egoísmos ou vaidades, para si mesmo, que tipo de traição lhe seria pior sofrer? Qual seria mais difícil perdoar? Qual lhe custaria mais a curar? Pensamentos ou palavras? Atos ou omissões? Difícil. Acho que já sofri de todas um pouco, vou dizer: a que doeu menos foi a de cunho afetivo-sexual. Essa pode pôr um fim de vez na relação ou não, cabe a cada um a decisão, mas as demais traições que, por não nos impulsionarem à separação instantânea, essas sim nos ferem por completo, nos corroem e nos dilaceram para sempre.

Mas o que leva o traído a continuar a relação, isso também não é da sua conta! Parece cômico, alguém escreve uma crônica para causar tumulto e depois diz para o leitor que o produto final não é da conta dele! Mas é bem assim. Não nos compete julgar o outro, afinal mal conseguimos digerir, entender e apreciar os nossos próprios problemas para decidir nossas vidas, quem dirá o que somos capazes de fazer sobre a vida dos outros.

Julgamentos e condenações? Ninguém na terra é o Senhor da Justiça ou o próprio Pai para julgar a seus irmãos em seus erros. O que cada um passa em sua casa é problema exclusivo seu. Se não vai ajudar, cale-se! Palavras ao vento sempre retornam ao seu ponto de origem.
 
  
 

 
Marília Francisco
Enviado por Marília Francisco em 19/01/2017
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