O  ar ficou pesado, quase irrespirável como se fosse preciso tomar fôlego. Engoli  a seco um vazio que me causou  estranheza, a visão meio borrada, desfocada, e aquela sensação de extrema secura que não passava independente das garrafinhas de água que ia ingerindo quase automaticamente. Naquele dia entrei no cinema para assistir um romance  muito triste e o cinema inteiro chorou, menos eu porque não havia lágrimas.  
Fiquei olhando aquele monte de gente aos prantos sem entender porque eu não conseguia chorar, e quanto mais eu tentava chorar mais nervosa ficava, nem uma única gotinha de consolo. Nada.

O pranto seco dói muito, vai lá no fundo da garganta e aperta o peito,  o esforço para respirar não permite  nenhum som. É feito uma casca que se parte, árida e solitária. E esta ausência é apenas um sintoma que passa despercebido, quem sente falta de lágrimas?!

 
Quando me dei conta que não lembrava da última vez que havia chorado, fiquei realmente perplexa com a falta de importância que dava às lágrimas. Mas foi assim que comecei a fazer os exames que confirmaram o Sjogren. Agora que elas não estão mais ao meu inteiro dispor, sinto saudades mas não perco a esperança, quem sabe um dia elas voltam? Desta vez serão recebidas com todo amor e carinho, e estarei muito mais atenta. 

 
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 14/01/2017
Reeditado em 22/05/2017
Código do texto: T5881458
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