SASSO

Refugiada do céu, percorro as encostas dos montes para encontrar um vestígio das tantas migrações. Entre anseios, sinto vertigem dos passos e percorro o tempo com o atrito de cada dormente transverso às linhas das narrativas. Vias de realidades reproduzidas em cartões envelhecidos alinhavam o presente disperso na nostalgia de uma antiga estação.

Guardo-me paisagem entre as rochas formadas nas histórias familiares. Trilho os caminhos dos seus corpos minerais, indiferente aos maciços movimentos que não consigo compreender. Pedras, natureza das rochas, inorgânicas e estáticas que formam os caminhos e que escondem em si os fragmentos de histórias interrompidas. Sangram as infiltrações entre as ficções cristalizadas nos sedimentos acumulados de ventos enquanto percebo-me viva nas vibrações das rochas abissais redescobertas com a ardência de uma confissão.

Embarco nas lembranças do último sobrevivente de uma geração de imigrantes. Um parente distante, quase um desconhecido, que me leva as veredas de suas memórias infantis, suas fragmentações e consolidações, e me faz perceber a respiração aprisionada nos retratos em preto e branco que por tantos anos representaram inexpressivos ou falaciosos testemunhos materiais dispostos nas prateleiras dos mitos familiares.

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 01/08/2007
Código do texto: T588096