A ARTE DE ESTAR PRESENTE AINDA QUE FISICAMENTE AUSENTE

Estava longe, alguns quilômetros nos separavam geograficamente. Mas sua presença era tão sentida como se estivesse ali , o tempo todo. De repente a casa passou a ter seu jeito, seu cheiro, sua identidade. Em cada cômodo podia ver seu sorriso se abrindo, a princípio timidamente, para logo em seguir soar uma gargalhada daquelas que levantam o astral. Você estava ali o tempo todo. Na cozinha, ajeitando as louças em cima da pia, no quarto dobrando os lençóis depois de uma noite de sono, na sala, escolhendo na TV o filme ou a série que iríamos ver mais tarde. Em cada canto um pedaço seu, e em cada pedaço, você inteiramente presente. E assim passei a sentir menos medo. Aqueles medos de quem mora sozinho foram diminuindo dentro de mim a ponto de não me incomodarem mais. O som do trovão que antes era apavorante passa a não ser mais tão assustador. A escuridão da noite que antes tomava conta de tudo, agora se deixa quebrar por um raio de luz que a sua presença traz. As horas de insegurança e tristeza vão dando lugar a sua presença, ainda que não física e totalmente silenciosa. Vou descobrindo em mim que você está ali, o tempo todo, e que basta eu querer para sentir a sua presença. A distância física e geográfica passa a ter uma importância subjetiva, porque sinto você cada dia mais perto e mais presente em minha casa, minha vida, em mim. E você me faz descobrir, não sem uma grande dose de emoção, que quando permitimos que alguém entre em nosso coração, esse alguém entra por inteiro, e assim pode se fazer presente na casa, no quarto, na sala, na cozinha, na vida, mesmo que esteja fisicamente a muitos quilômetros de distância.

A você que talvez nunca leia essa crônica mas foi toda a fonte de inspiração dela.