A Cidade Ideal

A cidade ideal é aquela em que todos podem acordar ao meio-dia, e independente da ressaca a um lugar digno para se morar, ter o que comer e alguém para amar, eu achava que tivesse tirado da cabeça de algum iluminista francês pré-kantiano mas me enganei redondamente. Todo homem sonha com uma cidade ideal, e eu como mero eremita do tempo, vou tentando granjear o que a vida me oferece e pensei o que seria ideal?

Ideal seria ás vezes não ter ideal – falar sobre política sem ter que fazer a política da boa vizinhança com seu oponente, seria como se sentir um bolchevique bonachão tomando um chopp com Trump sem se abalar por suas histrionices. Bem, voltando, na Cidade Ideal deveria funcionar uma lei orgânica que impedisse o ponto facultativo antes e após cada feriado – dever ia funcionar o ponto compulsório, para que cada cidadão se adequasse suas obrigações às suas disposições reais. A cidade ideal por natureza poderia ter dias de comemoração à preguiça (padroeira perpétua e protetora da cidade) e de preferência coincidissem com o primeiro dia útil do mês antes de todos pagarem as contas.

Ah, para ser ideal mesmo, nenhum idoso precisaria encarar fila no SUS, no banco ou supermercado, mas em contrapartida deveriam parar de falar dos vizinhos. As escolas ensinariam as crianças a viver melhor e a produzir seu próprio dinheiro, ou seja: evitar pedir aos pais a mesada toda semana!

A cidade ideal teria torneiras públicas com água tratada e potável para cada pessoa beber nos dias quentes. Já a cerveja teria um custo social e o resto subsidiado pelo Estado (por mais que isso soe absurdo para alguns), a partir de 1 real você poderia escolher o preço a pagar,

assim, os verdadeiros apreciadores justificariam o preço por aquilo que realmente gostam de beber.

Na cidade ideal haveria rodízio de pessoas na praia, para evitar tumulto, e haveria um caminho em grama sintética até o mar para não se sujar com areia, afinal tem gente que não gosta de pisar nela! Nessa mesma cidade deve ter bancos de empregos eficientes e bancos de ócio mais eficiente ainda. Nada de um bar uma igreja por rua, e sim um bar, uma igreja e um teatro – assim se curaria a ressaca com o arrependimento e o arrependimento com a ironia, tudo isso sem perder a fé!

Na cidade ideal, cada homem monopoliza para si o maior número de mulheres que lhe for necessário – sejam duas, cinco ou vinte e delega a cada uma, funções que sejam indispensáveis pro dia-a-dia: esposa, noiva, namorada, namoradinha, caso, amante, peguete, concubina, amiguinha, coleguinha, mucama, matrona (...) não importa, o que importa é que não haja acúmulo de funções e nem a disputa interna pelas mesmas que venha afetar à estrutura. O nepotismo em certos casos seria permitido e incentivado, na vida, certas substituições são necessárias!

Quanto as sogras, falaremos no próximo artigo quando discutiremos o sistema prisional brasileiro. Até lá!