Tecnologia da letra
A tecnologia pode ser entendida como a aplicação do conhecimento do homem para a resolução de um problema ou dificuldade. Independe da época ou situação cultural em que ele esteja inserido.
Quando certa tecnologia é descoberta e divulgada para os demais, acarreta em mudanças irreversíveis na sociedade, e, o tempo em que ela não existia torna-se um marco ultrapassado, enfim, cria-se um novo paradigma.
Um exemplo de tecnologia que ampliou as possibilidades foi a invenção da tipografia por Johannes Gensfleish Zur Laden Zum Gutemberg.
A tecnologia desenvolvida por Gutemberg mudara para sempre a forma como os homens relacionavam-se com a informação e o conhecimento. Através de Gutemberg, os livros, manuscritos, possuídos por poucos, disseminaram-se em proporção nunca antes imaginada, o que contribuiu muito para o desenvolvimento da moderna economia baseada no conhecimento.
Concomitantemente com a proliferação do conhecimento, que antes calcava-se na oralidade para ser transmitido, o invento de Gutemberg fez o homem valorizar mais a imagem que o som, em outras palavras, o homem “auditivo” tornou-se “imagético”, por que o conhecimento que era oral passou a ser adquirido pelas imagens fornecidas pela letra da palavra impressa.
Marshal Mc Luham em seu livro A galáxia de Gutemberg já apontava na década de 60 as mudanças que a tipografia causara no homem. O fato de o livro impresso ser produzido em grande escala, atingindo um número maior de leitores, fez o ser humano direcionar seu foco de entendimento, especializar-se em apenas um segmento do conhecimento, fato inimaginado antes da invenção da prensa.
Os homens “multifuncionais” da renascença, como Leonardo da Vinci e outros, não se desenvolverão na era pós Gutemberg. O homem especialista é o que imperou e continua até nossos dias.
O fato de a palavra impressa ter mudado o modo de o homem perceber e produzir conhecimento também fora o responsável por criar inventos em proporções que ultrapassam, em muito, os inventos criados antes da era gutemberguiana.
Se por um lado a tecnologia da prensa fizera o homem produzir inventos em escala geométrica, por outro, fez esse mesmo homem isolar-se no que chamamos de aldeia global. O homem “gutembergueano” isola-se em sua especialização, dialoga apenas com seus pares, dificilmente expande seus conhecimentos devido ao individualismo trazido pelo livro impresso.
Antes da invenção da prensa, a leitura era feita em voz alta e na maioria das vezes era uma ação coletiva, após a chegada do livro impresso, ocorreu o contrário, e, até os dias de hoje, as imagens das letras impressas no livro fazem o homem isolar-se para obtenção de conhecimento e, com isso, alterar sua interação social.
A tecnologia contribui em muito com o desenvolvimento do homem, mas seus efeitos isolacionistas podem ser observados. É possível afirmar que as contribuições foram mais positivas que negativas na atual sociedade em que a imagem adquiriu mais importância que o som. Sociedade “gutemberguiana”.