Não dá para engolir.
Sei que estamos no início de 2017 e as pessoas ainda estão trocando felicitações. Aproveito a ocasião para desejar um ano repleto de realizações com muita saúde e felicidade ao prezado leitor. Mesmo em período de férias e festas tem coisas que quando nos vem à mente, não dá para aceitar, não desce na goela. Tem sapos que nos forçam a “engolir”, mas não descem. Ficam parados na garganta, por mais azeitados que estejam.
Um exemplo para ilustrar esta dieta indigesta é a reforma da Previdência. Estipularam a idade mínima para aposentadoria aos 65 anos e segundo alguns artigos há pessoas que precisarão trabalhar 49 anos para receber aposentadoria integral. Sim, tem a famosa idade de corte, 45 anos para as mulheres e 50 para os homens. Enquadro-me nesta situação, mas pelo que apreendi terei que pagar um pedágio de cinco anos a mais de trabalho. É frustrante ver, mais uma vez, o povo pagar a conta de “cagadas”, que não fez.
As “lideranças políticas” pintam, bordam e terceirizam a conta para o extrato mais pobre da população. Aqueles que pouco possuem pagarão a conta feita pelos poucos que muito possuem. Sim, porque a reforma da Previdência não atingirá aqueles que muito possuem. Eles não precisarão fazer sacrifícios. Os políticos continuaram a aposentar-se com oito anos de trabalho, é mole? Continuaram com todos os benefícios de verbas adicionais, verbas de gabinetes, verbas disso e daquilo.
Formou-se uma casta no Brasil que está imune a trovoadas e vendavais. Sacrifício com eles não, terceirizam para o povo. No Judiciário estima-se que três de cada quatro juízes recebem mais que o teto estabelecido de R$ 33.763,00. Há inclusive magistrado que, ocasionalmente, recebe 500 ou 600 mil em um mês. E ainda testemunhamos juízes pegos em delito serem punidos com aposentadoria compulsória, com salário integral. Vai você, prezado leitor, cometer um delito, para ver se não te jogam atrás das grades?
Os militares estão inseridos nesta festa, digo, nesta casta. Não entram na reforma e continuam com o benefício da aposentadoria perpétua. A aposentadoria deles pode ser recebida indefinidamente por filhas e netas de militares, desde que não casem. É óbvio que a herdeira da pensão do militar não casará no papel, vai viver junto, mas não oficializa. Não é louca de perder a pensão.
Na casta inimputável estão os empresários e os donos de grandes fortunas, que por acaso também são empresários. A única preocupação deles é reduzir a parte que lhes cabe recolher, de seus assalariados, para a Previdência e impedir que alguma lei que tenha a pretensão de taxar as grandes fortunas seja aprovada. Só alegria.
E o mais triste de tudo isto é ver o povo sem saber o que fazer e sem ter para onde correr. Mas há trabalhadores que defendem a reforma. Acreditam no discurso que lhes chega via mídia e saem repetindo. E ainda mais triste é saber que o povo está desunido , quando deveria estar unido para lutar contra seus líderes. Sim, queiramos ou não são eles que estão liderando e (des)governando o país. Patética situação ter que lutar contra aqueles que foram eleitos para nos propiciar melhores condições de vida. Falo do Congresso que deveria discutir e aprovar leis para melhorar o cotidiano da nação. Na teoria, porque na prática querem é melhorar as condições de vida deles e dos grupos econômicos que representam, porque a maioria nem deputado é, é lobista.
Difícil engolir o discurso que a Previdência está quebrada porque as pessoas estão vivendo mais, que tem pouco contribuinte para muito beneficiário e etc… Precisa agregar neste discurso os recursos desviados para outras finalidades que não o pagamento de aposentadoria. Para ilustrar, cito o dinheiro, fortuna, que foi utilizado para construir a Usina de Itaipu, a Transamazônica e as Usinas Nucleares de Angra. Por que esta fortuna não foi devolvida aos cofres da Previdência? Falar do que foi roubado é chover no molhado. Para citar um caso, lembram da Advogada Jorgina de Freitas que desviou mais de R$ 112.000.000,00? Certamente, não foi a única.
Triste, muito triste ver o país transformado em um país de coronéis, castas, e pior é ver o povo classificado como uma casta de quinta categoria, um estorvo para o desenvolvimento do país.