FELIZ 2017, MENINO!

Um fragmento de “organismo social” lhe oferecera uma oportunidade: a de ganhar um trocado no final de semana. A cama, de madeira velha, umedecida pela água do mangue, que é o seu quintal, não tem colchão. Daria para juntar os tais trocados e, quem sabe, comprar?

Escola? Pra quê? O que ganharia com isso? Melhor aproveitar as férias de dezembro, janeiro e talvez emendar o resto do ano, para tirar mais e mais trocados. Isso se outro tipo de troca não lhe furtar a vida antes. Balas ofertadas vez ou outra, entre os fardados e os de cabelo pintado, podem se perder no caminho. Ou podem achar a direção certeira do menino que ousar mudar de ideia.

Sacolés (ou saquinhos) nas mãos. Poderia ser uma boa pedida para o verão. Mas esses não são líquidos, não são gelados, nem refrescantes. Podem esquentar ainda mais.

Menino, sai um pouco daí. Vem pra cá! Tenho uma coisa básica para te dizer, apesar da complexidade da situação. Vem pra cá! Vem conviver. Quem sabe a "mão invisível" do poder público possa lhe ofertar orientação social. Quem sabe teus vínculos com tua mãe, que se entorpece para não lidar com a casca dura da realidade, possam se fortalecer. Vem, menino. Deixa esse "radinho" aí!

Ah, desculpe. Esqueci que é janeiro. Tem recesso das atividades atrativas. Teatro, dança, música, capoeira, esportes... Do que você gosta, menino? Espera só mais um pouco. Pode ser que tenha um dia desses.

Ah, esqueci também que é mudança de gestão. Aqueles profissionais que contribuíram por um tempo, para tentar melhorar um pouco a vida de sua comunidade, sem esperar muito no final do mês e bem antes de darem mais peso às suas digitais, menino, não estão aqui. Sabe “Deus” quando e se voltam. O importante é enxugar a máquina, mesmo que peças que realmente funcionam, nas entranhas mais complexas e dificilmente acessíveis sejam retiradas.

Menino, eu não tenho muito a lhe oferecer, além de “conhecimentos técnicos” (sobre o que?). Há dias que não tem água, nem um ambiente com conforto térmico e ao menos asseado para que você se sinta bem ao entrar aqui e queira voltar mais e mais vezes até descobrir que há outros caminhos possíveis...

Quando você crescer, menino, eu não sei onde estarei. Mas se a gente se encontrar em alguma esquina da vida, tomara eu tenha tempo de lhe dizer, talvez antes de lhe entregar a bolsa: Quero que saiba que eu tentei.

Talvez eu esteja sendo pessimista, fatalista. Pode ser que apesar dos pesares e da mão que insiste em se fazer invisível, você consiga dar um final melhor para essa história e a gente se encontre pela vida... E o desfecho seja bem melhor do que o escrito. E quem sabe eu é que precisarei dos teus cuidados... E haja resiliência! Feliz 2017, menino!

(Autoria: Assistente Social da Capital do Petróleo)