VIDA: A MELHOR ESCOLA
VIDA: A MELHOR ESCOLA
É sábado, o primeiro de 2017, o verão fazendo valer o seu nome, o sol reinando absoluto, um dia lindo aqui pelas bandas da Região Norte da Bahia. Um dia perfeito para gozarmos de total felicidade, seja em casa, no conforto da família ou passeando por lugares desejados para relaxar a mente e renovar as energias. Afinal, é verão, a estação da alegria, vamos sair, botar a cara no sol, deixar a alegria nos contagiar. A vida é pura poesia ou vice-versa, o que importa, enfim, é verão.
Como disse, o dia era realmente esplêndido, céu azul, sol soberano, não muito quente. Após o café da manhã, fiquei a conversar com minha esposa sobre algumas questões do dia a dia, mais exatamente sobre nossa próxima viagem, contagiados que estávamos com aquela bela manhã. Essa tela que se desenhava teria mais valor do que os quadros de Anita Malfatti, que são espetaculares, por sinal. A educação e o bom senso, bens inestimáveis à boa convivência, resolveram se fizer ausentes daquela estonteante manhã de verão. Foi o que notei de acordo ao que se sucedeu e que vou relatar agora.
Na rua que passa ao fundo de minha casa, alguém se deu ao direito de ligar um som e aumentar o volume à máxima potência. Não sei se o som estava no porta malas de um carro, como acontece geralmente em minha cidade ou se era apenas um sonzinho sobre o rack de alguma pobre casa. Resultado: Aquele quadro que se desenhava pela manhã foi completamente destruído pelo pincel da ignorância de um povo que não conhece os limites da convivência harmoniosa.
Tenho conhecimento dos benefícios que a música proporciona à mente e ao corpo. Aquelas que estavam sendo tocadas, iriam contribuir, mais provavelmente, para diluir o mínimo de valores morais que ainda conseguimos passar para as novas gerações. Não podemos ser egoístas, minha família me ensinou isso, mas naquele momento, deixei o sol sozinho na imensidão daquele céu encantador, ouvindo aquelas blasfêmias e fui dá uma olhada nas novidades trazidas pela internet. Como a música deles insistia em invadir minha membrana timpânica, coloquei os fones de ouvido e acionei meus amigos da Roupa Nova.
A raça humana é a única que caminha para o precipício por conta própria. É incrível o quanto estamos atrasados em evolução, apesar de vivermos em pleno século XXI, pós-modernidade. Temos a Lei que nos dá o direito à tranqüilidade, o que é mais uma prova de que precisamos mesmo avançar e sairmos da escuridão em que nos metemos. A educação, o bom senso, a ética e o respeito ao próximo deveriam ser as únicas leis em vigor para garantir a nossa paz e tranqüilidade, sabendo que não seríamos perturbados, muito menos em um lindo dia de verão.
Por volta das 10 horas fui à rua comprar algumas coisas para garantir o almoço. Não me surpreendi com o que vi ao chegar ao centro porque conheço minha pequena cidade, apenas associei ao que relatei acima – Mais um daqueles carros com o porta malas aberto, berrando como podia – Pela minha rápida observação, acho que o som valia mais de que o próprio carro e muito mais que o dono. Era uma cena típica de pessoas desaculturadas, de mentes e corações vazios que usam o som para preencher os espaços que os bancos escolares e os livros não conseguiram adentrar. Nesses espaços, os ocupantes não têm a oportunidade de conversarem e trocar umas ideias. Os que tentam fazer isso, mesmo que seja para falar da vida alheia, devem alterar a voz para serem ouvidos, provavelmente já estejam acostumados a tal prática.
Comprei minhas mercadorias e, quando já ia saindo do estabelecimento, quase não acredito no que vi com esses olhos que agora me ajudam a escrever essas linhas: Um jovem entrou no supermercado com um celular tocando um funk baixaria, volume às alturas. Olhei para o rapaz e quis perguntar-lhe se não sabia para serve o fone de ouvido. Optei pela vida, afinal, tenho família, ela precisa de mim e eu dela. Deixei que a vida ensinasse àquele jovem as regras de convivência em sociedade.