A Felicidade de um Pão com Maionese
A inocência da infância é muitas vezes uma fonte de sabedoria para nossas vidas, se soubermos interpretar as mensagens que ela nos deixa para a fase adulta.
Alguns dias atrás, recordei-me de um fato curioso que comigo ocorreu, quando eu ainda tinha apenas 13 anos de idade.
Nessa época, era incomum ter em minha casa alguns caprichos alimentares que, graças a Deus, hoje posso ter. Um desses caprichos que posso dizer chama-se maionese, um verdadeiro luxo para a minha realidade na época.
Numa certa noite, como todo garoto que chega da rua, entrei em casa esfomeado e pensando no que iria encontrar para saciar a minha fome.
Ao entrar no cômodo onde morava, encontrei a nossa mesa com um pacote de pães e um vidro de maionese.
Não havia geladeira em nossa casa, o que era mais um motivo para nunca termos produtos assim. De fato, aquela visão era algo bastante incomum, e aquele pote de vidro brilhante tornou aquele momento muitíssimo especial.
Sem pensar duas vezes, passei a mão numa faca e peguei um dos pães, cortei-o ao meio com o maior capricho e botei uma boa quantidade de maionese dentro. O pão estava fresquinho, crocante, e com aquela maionese não faltava mais nada, simplesmente nada, eu tinha a garantia de um sabor explosivo que dava água na boca só de olhar.
Então fui até a área externa da casa com o sanduíche de pão e maionese na mão, sentei-me no chão de cimento e apoiei as costas na parede. Nesse momento, percebi que o céu estava muito bonito. Era uma noite com muitas estrelas e o clima estava muito agradável. Dei a primeira mordida no pão com maionese, a segunda, a terceira... Para minha alegria, eu sabia que quando acabasse aquele, havia outros pães à mesa e o vidro de maionese estava lá, cheinho, à minha disposição.
Senti uma alegria tão grande naquele momento, que até hoje nunca me esqueci. Era muito boa aquela combinação: fome e pão com maionese à vontade. E ainda para completar, podendo relaxar ali com aquele céu bonito e aquele clima gostoso.
Foi aí que me veio uma reflexão que até hoje a reputo como iluminada. Naquele instante de enorme prazer por algo tão simples da vida, dei-me conta de quão pouco necessitamos para nos sentirmos felizes.
Porém, logo em seguida senti um aperto no coração provocado por uma questão um tanto quanto perturbadora. Em minha mente veio a seguinte questão: por que as pessoas não têm os mesmos direitos?
Fiquei alguns segundos em estado de silêncio, esperando uma resposta àquela indagação. Aguardei com grande fé alguma voz, algum pensamento ou qualquer outra forma de percepção que me parecesse uma resposta.
Por fim, após nada ouvir, voltei ao meu pão com maionese e saciei aquela fome e imensa vontade de comer. Com grande satisfação, saboreei cada pedaço, cada pedacinho.
Então, após a deliciosa refeição, uma espécie de oração surgiu espontaneamente dentro de mim. Olhei fixamente para aquele céu infinito, cheio de estrelas, e lancei-lhe um pedido que desejei ser ouvido por alguém lá em cima:
- “queria muito que todas as pessoas do mundo sentissem a felicidade de comer pão com maionese!”.